Grada Kilomba em Lisboa



Residente em Berlim há vários anos, Grada Kilomba é uma escritora e artista interdisciplinar portuguesa praticamente desconhecida no país. Outubro marca o início da apresentação do seu trabalho em Portugal com exposições individuais no MAAT e na Galeria Avenida da Índia e com reflexões sobre o seu trabalho em conversas no Teatro Maria Matos e no HANGAR.

Grada Kilomba é uma artista portuguesa, cujo trabalho tem sido apresentado extensivamente a nível internacional, mas que no nosso país se manteve invisível até este ano. Colocando as questões fundamentais acerca da legitimidade do lugar da fala ― quem fala; a partir de onde; sobre o que pode falar ―, a sua obra trata de questões de memória, raça, género e descolonização do conhecimento que nos confrontam com o quanto existe ainda por fazer para que a descolonização aconteça de facto no contexto da sociedade portuguesa. 
A artista nasceu em Lisboa e tem raízes em São Tomé e Príncipe e Angola. A sua obra lida com questões suscitadas pelos discursos em torno das ideias de género, raça, trauma e memória, seja no âmbito das problemáticas atuais sobre o colonialismo e pós-colonialismo no início do século XXI, seja para investigar as relações ambíguas entre memória e esquecimento, o imaginário coletivo e a identidade das culturas africanas, da diáspora, e dos povos indígenas.  Evocando a tradição oral das culturas africanas e o seu poder de perpetuação da palavra, a sua obra dá voz a narrativas silenciadas com o intuito de reescrever e recontar uma história que foi negada ou omitida.  Mais conhecida pelo seu trabalho como escritora, Kilomba tem vindo a explorar práticas artísticas experimentais e interdisciplinares, utilizando e combinando diferentes meios de expressão; desde a performance e a videoinstalação, até leituras de palco e palestras que criam uma interface entre texto e imagem, entre linguagem artística e linguagem académica.

Na Galeria Avenida da Índia:
Grada Kilomba The Most Beautiful Language
Exposição individual
27 outubro 2017 até 4 março 2018 (inauguração 26 outubro 2017 às 18h)

The Most Beautiful Language é a primeira grande exposição individual de Grada Kilomba, que traz a sua prática transdisciplinar e singular de dar corpo, voz e imagem aos seus próprios textos, usando num único espaço a instalação de vídeo, a leitura encenada, a performance, a colagem de texto e a instalação de som.
Sendo-lhe muitas vezes dito que o seu idioma materno é "a língua mais bela", a artista portuguesa questiona: quais são os corpos que podem representar esta língua? E quais são as "línguas" que estes corpos falam?
Com uma beleza intensa e precisa, Kilomba explora não apenas os desejos coloniais e as contradições das narrativas dominantes, como também desvenda um espaço recheado de novas linguagens. Linguagens, que revelam as vozes urgentes de um passado e presente reprimidos; e que se opõem ao que a artista chama uma “dupla ignorância”: não saber, e não ter que saber.
Com curadoria de Gabi Ngcobo, a exposição apresenta novos corpos de trabalho que combinam uma variedade de formatos e géneros, levantando questões fundamentais sobre falar, silenciar e ouvir, numa sociedade pós-colonial. Para Kilomba, “the most beautiful language" é a língua que fala da própria realidade silenciada.

Curadoria Gabi Ngcobo • Produção Criativa Moses Leo
Terça a Sexta-feira, 10h-13h/14h-18h • Sábado e Domingo, 14h-18h • Última admissão: 30 min antes da hora de encerramento • Entrada gratuita
Avenida da Índia, 170 - Belém
www.facebook.com/galeriasmunicipaislisboa

No Teatro Maria Matos
Grada Kilomba e Carla Fernandes Práticas de descolonização: uma conversa a partir da obra de Grada Kilomba
28 outubro 2017 18h30

No âmbito do ciclo dedicado à Descolonização, o Teatro Maria Matos apresenta uma conversa entre a jornalista e mentora do audioblogue Afrolis e a artista portuguesa Grada Kilomba cujo trabalho trata da legitimidade do lugar da fala e aborda questões de memória, raça, género e descolonização do conhecimento. A sua obra confronta-nos com o quanto existe ainda por fazer para uma descolonização da sociedade portuguesa, na qual se continua ainda a empurrar para a invisibilidade a experiência de um largo grupo de cidadãos portugueses ou a boa integração de outros de outras proveniências.
Ainda no contexto deste ciclo, o Teatro Maria Matos apresenta a nova criação da companhia Hotel Europa que conclui a trilogia dedicada ao colonialismo português. Focando o lado dos nacionalistas africanos que lutavam pela sua libertação, Hotel Europa analisa o movimento de independências em África para melhor entender o caso do colonialismo português no contexto mundial. Em paralelo ao espetáculo, o Teatro Maria Matos recebe a propósito dos movimentos de libertação africanos, com André Amálio (Hotel Europa), Miguel Cardina (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra) e Beatriz Dias (Djass, Associação de Afrodescentes).

entrada livre (sujeita à lotação) mediante levantamento de bilhete no próprio dia a partir das 15h • duração: 2h • live streaming acessível no próprio dia em www.teatromariamatos.pt
Avenida Frei Miguel Contreiras, 52


No MAAT
Grada Kilomba Secrets to Tell
8 novembro 2017 até 5 fevereiro 2018 (inauguração 7 novembro 2017 às 19h)

A exposição Secrets to Tell, da artista Grada Kilomba, é o primeiro projeto individual a inaugurar o espaço do Project Room do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Com curadoria de Inês Grosso e pensada a partir da videoinstalação intitulada The Desire Project — uma obra especialmente concebida para a 32.ª Bienal de São Paulo (2016), sendo também uma das mais recentes aquisições da Coleção de Arte da Fundação EDP — a exposição poderá ser visitada a partir do dia 8 de novembro.
The Desire Project (2015-2016) ocupa praticamente a totalidade do espaço expositivo do Project Room. Dividida em três atos, como uma peça de teatro - 'While I Walk, While I Speak and While I Write' [Enquanto Caminho, Enquanto Falo e Enquanto Escrevo] – a obra mostra uma sequência cadenciada de frases e palavras, que compõem um discurso contundente e comprometido com uma série de questões que se situam numa perspectiva pós-colonial vinculada a representações da história e descolonização do pensamento na contemporaneidade. Para além de The Desire Project, a exposição conta ainda com uma nova versão, exibida em 4 ecrãs, da leitura encenada do seu célebre livro 'Plantation Memories' – publicado por Unrast Verlag, Münster em 2008. Foi, também, incorporada na exposição, sobre a forma de vídeo projeção, Kosmos2, Labor #10, na qual Kilomba conversa com a rádio-ativista Diana McCarty. Kosmos2, Labor #10 é apresentado como um valioso arquivo audiovisual de documentação sobre o seu trabalho artístico, que permite uma compreensão mais ampla sobre a sua obra e a já referida prática em trânsito constante e contínuo entre as artes visuais e performativas e a literatura, e entre a investigação académica e as atividades letivas experimentais.
No âmbito da exposição será lançado um livro (o primeiro de uma nova série de livros que serão publicados com o programa de exposições definido do Project Room do MAAT) que conta com um ensaio da curadora da exposição, Inês Grosso, e a participação especial do artista Alfredo Jaar com um texto inédito, em formato de carta dirigida à artista.

Curadoria Inês Grosso
MAAT – PROJECT ROOM
Av. Brasília, Central Tejo
http://www.maat.pt

E ainda no HANGAR
Conversa com Grada Kilomba moderada por Manuela Ribeiro Sanches
3 novembro às 19h

O Hangar em parceria com as edições Orfeu Negro e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa organiza uma conversa pública com a artista Grada Kilomba moderada por Manuela Ribeiro  Sanches. A artista falará sobre sua prática artística com um destaque sobre o livro Memórias da Plantação: Episódios do Racismo Diário, com apoio da vídeo-documentação da leitura encenada de episódios que exploram o racismo quotidiano em forma de histórias psicanalíticas, vinculando teoria pós-colonial com narrativa lírica. A combinação dessas duas palavras, plantação e memórias, descreve o racismo não apenas como   o reencenar de um passado colonial, mas também como realidade traumática atual.            


Rua Damasceno Monteiro 12
www.hangar.com.pt

Biografia
Grada Kilomba (n. 1968, Lisboa, Portugal) é uma artista interdisciplinar e autora que vive em Berlim – com raízes em São Tomé e Príncipe, Angola e Portugal. O seu trabalho tem sido apresentado em locais tão distintos como a Documenta 14 de Kassel (2017), 32.ª Bienal de São Paulo (2016), Rauma Biennal Balticum (2016), Art Basel, Cape Town Art Fair, Transmediale, Secession Museum em Viena, Bozar Museum em Bruxelas, Maritime Museum em Londres, SAVYY Contemporary em Berlim, Wits Theatre em Johannesburgo, Theatre Münchner Kammerspiele em Munique, WdW Center for Contemporary Art em Roterdão, entre outros.
Kilomba é autora do livro Plantation Memories (2008) e coeditora de Mythen, Subjekte, Masken (2005), uma antologia interdisciplinar de estudos críticos da branquitude. Sendo particularmente conhecida pela sua escrita subversiva e pelo uso não convencional de práticas artísticas, Kilomba cria intencionalmente um espaço híbrido entre as linguagens académica e artística, usando a instalação, o vídeo, o teatro, a música, o som e a performance para explorar "vozes silenciadas" e " conhecimentos incómodos". Fortemente influenciada pelo trabalho de Frantz Fanon, Kilomba começou a escrever e a desenvolver projetos sobre a memória e o trauma, estendendo as suas preocupações à forma, à linguagem, à performance e à encenação de narrativas pós-coloniais. Mais recentemente ampliou o seu trabalho às artes visuais e à instalação, e começou a experimentar o uso de filmes, vídeos e som, introduzindo mais um elemento performativo na sua escrita.
Kilomba é doutorada em Filosofia pela Freie Univesität Berlin, 2008, e tem lecionado em várias universidades internacionais, nomeadamente na Humboldt Universität Berlin, onde foi Professora Associada (até 2013) com o seu trabalho Performing Knowledge, no qual combina os estudos pós-coloniais com os estudos de género e a performance. Desde 2015 foi convidada pelo Maxim Gorki Theatre, em Berlim, para desenvolver a série de conversas de artistas Kosmos2, uma intervenção política nas artes contemporâneas com a colaboração de artistas refugiados. A artista é representada pela Goodman Gallery, em Joanesburgo.

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