Teatro Nacional de São Carlos leva à cena ópera "perdida" de Rossini.
"Il Viaggio a Reims – L’albergo del giglio d‘oro" esteve desaparecida durante praticamente 160 anos, até 1984. Apenas nesse ano este dramma giocoso em um ato foi encenado e apresentado no Rossini Opera Festival de Pesaro, sob regência do recém-falecido maestro Claudio Abbado. Agora, poderá ser visto e ouvido em Portugal entre 5 e 11 de fevereiro naquela que será uma estreia absoluta no nosso país. A encenação é de Emílio Sagi, com direção musical de Yi-Chen Lin e produção do Teatro Real de Madrid, em colaboração com o Rossini Opera Festival de Pesaro.
As peripécias em torno de "Il Viaggio a Reims"
Em 1824 Rossini instala-se em Paris onde lhe fora oferecida a direção do Théâtre Italien. Um ano depois, apresenta a sua primeira ópera concebida na capital francesa. Criada especificamente para integrar os festejos da coroação em Reims de Charles X como rei de França em 16 de maio de 1825 (o qual acabaria por abdicar 5 anos depois) "Il Viaggio a Reims" é uma obra de enredo simples, feita para corresponder aos desejos dos amantes do bel canto e pejada de árias para todos os registos - quase sempre seguidas por cabaletas - duetos e conjuntos, separados por recitativos. De acordo com o reputado musicólogo Philip Gossett, esta é na verdade «uma peça para 14 vozes a solo» que foi descrita pelos críticos da época como «um verdadeiro tour de force». Apesar do retumbante sucesso obtido na estreia, tudo indica que Rossini considerava esta sua obra como perecível e criada exclusivamente para aquela circunstância específica, razão pela qual reutilizaria grande parte do material três anos depois em „Le Comte Ory“, datada de 1828.
Herdada pela segunda mulher de Rossini, Olympe Pelissier, que a ofereceu ao médico do compositor, a partitura desapareceu e foi sendo reconstituída através de pesquisas e buscas em diversas fontes e locais, passando por Paris, Roma, Viena e Nova Iorque. Finalmente, em 1984, foi levada a cena no Rossini Opera Festival, com direção musical de Claudio Abbado e edição crítica de Janet Johnson, sendo considerada o evento singular mais marcante da segunda metade do século XX daquilo a que os italianos se referem como «o renascimento de Rossini».
Após esse relançamento em 1984 foi ainda descoberto um coro, o qual seria incorporado pela primeira vez em 1992 numa encenação para o Covent Garden. Não há registo de que alguma vez tenha sido levada à cena em Portugal.
O enredo de „Il Viaggio...“
O cenário é a pousada ‚O Lírio de Ouro‘, na localidade termal de La Plombières. Nela descansa temporariamente um grupo heterogéneo composto por viajantes de luxo de diversas nacionalidades, todos eles desejosos de prosseguir caminho para assistir à coroação de Charles X em Reims.
No entanto, uma série de peripécias e acontecimentos que os ultrapassam mantém os hóspedes retidos na pousada dirigida por Madame Cortese. E enquanto esta tudo tenta, embora em vão, para assegurar a ordem e a tranquilidade, os incidentes e as peripécias tragicómicas sucedem-se. Finalmente, sem cavalos que os levem a Reims, o grupo opta por juntar-se antes às celebrações em Paris. Chegados ao número final, cada personagem canta algo iconicamente característico do seu respectivo país de origem. E, contrariando o título da ópera, nenhum deles viaja até Reims.
Ficha Técnica
IL VIAGGIO A REIMS de Gioachino Rossini
5, 7 e 11 de fevereiro de 2014 — 20h
9 de fevereiro de 2014— 16h
Dramma giocoso em um ato de Luigi Balocchi
Corinna Eduarda Melo / Marquesa Melibea Marifé Nogales / Condessa de Folleville Carla Caramujo / Madame Cortese Cristiana Oliveira / Cavaleiro Belfiore Dempsey Rivera / Conde de Libenskof Vassilis Kavayas / Lord Sidney Francisco Tójar / Don Profondo Luís Rodrigues / Barão de Trombonok Diogo Oliveira / Don Alvaro João Merino / Don Prudenzio Nuno Dias / Don Luigino João Sebastião / Delia Bárbara Barradas / Maddalena Ana Ferro / Modestina Carolina Figueiredo / Zefirino; Gelsomino Bruno Almeida / Antonio João Oliveira.
Encenação e cenografia Emilio Sagi
Figurinos Pepa Ojanguren
Desenho de luz Eduardo Bravo
Direção musical Yi-Chen Lin
ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA
Maestrina titular Joana Carneiro
Produção do Teatro Real de Madrid em colaboração com o Rossini Opera Festival de Pesaro
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