O talento corajoso de Dani Barros

Por Miguel Arcanjo Prado
Foto de Bob Sousa

Ao ter a coragem de realizar um espetáculo para abordar algo tão íntimo, a esquizofrenia de sua mãe, a atriz Dani Barros conquistou respeito da crítica e o carinho do público.

A curta temporada paulistana do seu solo Estamira – Beira do Mundo, no qual misturou lembranças maternas com a personagem catadora de lixo esquizofrênica abordada no documentário homônimo de Marcos Prado, lotou a pequena sala alternativa do Sesc Pompeia. Em todas as sessões. Com direito a longa fila de espera na bilheteria de possíveis desistências.

Depois do drama e do choro, ela agora embarca no riso, ao lado de Lilia Cabral, na comédia Maria do Caritó, uma grande produção em cartaz no Teatro Faap. Interpreta uma galinha. Impressiona do mesmo modo e conquista sorrisos generosos.

A diferença das duas personagens recentes mostra o tamanho do talento e da versatilidade de Dani Barros.

Dani é simples. Magrinha. Do bem. Simpática. Gosta de fazer yoga para ficar calma e cortou o açúcar por conta da ansiedade.

Educada, se desculpa pelos sete minutos de atraso ao chegar no saguão do Faap ainda com a mala da ponte aérea na mão. Moradora do Rio, vive uma São Paulo de fins de semana há um bom tempo.

Apesar do compromisso com Maria do Caritó até dezembro, Estamira ainda segue seus passos em festivais e apresentações nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Sabedora de que há público, Dani conta que quer voltar com Estamira para São Paulo em 2013 e sonha em conseguir um patrocínio. Tem consciência da importância desta obra em sua carreira.

— Estamira me colocou em um lugar. Nunca vi tanto público na minha vida. Foi um espetáculo que saiu do jeitinho que eu queria. A [diretora] Beatriz Sayad fez do meu número. Então, fico à vontade em cena.

Mas, antes da volta, ela precisa de férias. Está cansada. Trabalha todos os fins de semana desde o Festival de Curitiba. Mas está feliz.

Dani nasceu em Petrópolis, na região serrana do Rio, mas passou a infância entre Recife e Fortaleza, por conta das andanças da mãe. Até que voltou ao Rio. Foi na capital fluminense que, aos 11 anos, fez o primeiro curso de teatro. Aos 14, já pensava em tirar registro profissional de atriz.

Estudou no Tablado, na Casa de Artes Laranjeiras e na UniRio. Depois, se encantou pelo mundo do circo e dos palhaços. Até que entrou para a trupe dos Doutores da Alegria. Durante 13 anos levou vida e festa às enfermarias. Até que entrou em voo solo. Chegou a fazer TV também. Atuou nos seriados Minha Nada Mole Vida e na novela Fina Estampa. Viu seu público aumentar. Foi mais reconhecida nas ruas.

Mas o palco é mesmo o lugar onde se sente em casa.

— Faço teatro porque não consigo dormir sem ele. É o lugar que eu procurei e que me acolheu.

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