"Não se Ganha, Não se Paga" de Dario Fo no Teatro da Trindade em Lisboa







A crise chegou ao Teatro da Trindade, que estreia quinta-feira a peça "Não se Ganha, Não se Paga!", uma comédia política centrada no desemprego escrita há 36 anos pelo dramaturgo italiano Dario Fo e actualizada pelo próprio autor.

Caracterizada como uma comédia "de intervenção", esta peça que o Prémio Nobel da Literatura 1997 escreveu em 1974 e reescreveu em 2008 apresenta-nos Antónia, uma dona de casa desesperada - porque perdeu o emprego há uns meses e porque o marido, João, trabalha numa fábrica prestes a ser deslocalizada - que participa num assalto a um supermercado, levado a cabo por donas de casa como ela.

O jogo de enganos que aí tem origem surge da necessidade que Antónia tem de esconder o produto do roubo do marido, que prefere "morrer de fome a fazer alguma coisa contra a lei", e, obviamente, da polícia.

Maria Emília Correia encena esta nova versão da peça, com tradução de José Colaço Barreiros, depois de o Teatro da Cornucópia ter levado à cena a primeira versão, em 1981.

"Dario Fo adaptou o texto às convulsões económicas dos dias de hoje e isso motivou-me a encená-lo, porque me interessa falar daquilo a que eu chamo os novos rumos 'societais' e, como sou uma cidadã, como muitos outros, interessada no que acontece na nossa sociedade e, em particular, nesta crise que nos avassala, achei que teria uma premência, uma actualidade, que seria útil, até", disse à Lusa a encenadora.

"É um espectáculo de teatro escrito de uma forma muito específica - porque é uma comédia - mas que tem, de súbito, momentos gravosos e críticos sobre o que se passa hoje em dia. Dario Fo tem uma fórmula teatral própria, que passa muito pelo que é circense, pelo que é também um pouco 'commedia dell'arte', pelo que é alta comédia e pelo que é o profundo drama, quase tragédia", sublinhou.

Não é, por isso, um texto fácil - admitiu Maria Emília Correia -, "é complicado concatenar todas estas atmosferas que o texto recria e que a peça impõe ao público".

"Mas tem situações hilariantes, mesmo, muito bem construídas do ponto de vista teatral e é, por vezes - penso que vai ser - inesquecível (...), porque a forma como a história é mostrada ao público é realmente genial", observou.

Antónia é a actriz Cristina Cavalinhos, que contracena com Lucinda Loureiro (Margarida, telefonista a meio-tempo), Luís Gaspar (João, operário, sindicalista e marido de Antónia), Horácio Manuel (Luís, operário, "extremista" e marido de Margarida) e Rogério Vieira (polícia de segurança, polícia de intervenção, cangalheiro, pai e o "fantoche amarelo".

Com figurinos de José António Tenente e música original de Tiago Derriça, interpretada por Irina Brazhnik (piano) e Ricardo Torres (clarinete), "Não se Ganha, Não se Paga!" estará em cena na sala principal do Teatro da Trindade, de quarta-feira a sábado às 20h30 e ao domingo às 16h30.



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