A era dos mecenas exclusivos acabou, diz gestor do São Carlos e da Companhia Nacional de Bailado






A crise está na origem do fim do mecenato exclusivo em instituições culturais como o São Carlos ou a Companhia Nacional de Bailado, que agora procuram encontrar apoios junto de novos parceiros.

O Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) teve como mecenas exclusivo nos últimos anos o BCP, mas "a era da exclusividade dos mecenas acabou", disse à Lusa Pedro Moreira, presidente do Opart, organismo que gere o teatro lírico e a Companhia Nacional de Bailado.

O BCP anunciou em Julho, na conferência de imprensa de apresentação da temporada do São Carlos, que, quando terminasse em Dezembro um protocolo de três anos com o teatro, estava disposto a continuar como mecenas em 2009, mas por 0,5 milhões de euros, metade da verba que dava anualmente.

"Ninguém pode distribuir a riqueza que não tem", disse Fernando Nogueira, secretário-geral da Fundação Millennium BCP, aos jornalistas na ocasião.

Desde então "têm estado a ser desenvolvidas negociações no sentido de fechar o acordo", disse à Lusa Pedro Moreira, acrescentando que se está na fase de ajustar o texto do novo protocolo e que os termos do acordo serão anunciados oportunamente.

O TNSC já tem um outro mecenas, a Fundação EDP, que deixou de ser mecenas exclusivo da Companhia Nacional de Bailado (CNB), mas manteve o apoio por mais três anos.

O protocolo do novo acordo foi assinado em Janeiro e contempla as duas entidades com um total de 2,25 milhões de euros para o triénio 2009/2011.

Depois de celebrado o acordo com o BCP, "partiremos em busca de um terceiro parceiro", referiu o gestor.

Questionado sobre a dificuldade em encontrar mecenas numa época de crise, Pedro Moreira respondeu que "exige mais esforço".

"É muito diferente encontrar mecenato em épocas de expansão ou em épocas de recessão", admitiu, sublinhando no entanto que a nível da bilheteira a crise ainda não se fez sentir.

Ao fim de uma década, a Fundação EDP renegociou o protocolo - agora com o OPART - para pôr termo a esse estatuto de exclusividade, mantendo-a apenas para as digressões da CNB pelo país.

Na verba atribuída estão 375 mil euros para "incentivar a apresentação de espectáculos de dança em todo o país", afirmou na altura em entrevista à Agência Lusa o administrador-delegado da Fundação EDP, Sérgio Figueiredo.

"Queremos continuar a ser mecenas da CNB, entidade que tem prestígio e qualidade, mas num conceito diferente, de juntar esforços com outras entidades, e criar sinergias no apoio mecenático. É preciso romper a visão que cada mecenas tem de manter a sua quinta", justificou, na altura.

Também em entrevista à Lusa em Janeiro, António Mega Ferreira, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), tinha referido, a propósito da angariação de mecenato, que a entidade tem vindo a desenvolver esse trabalho, "mas não é fácil e muito menos em altura de crise".

Deu como exemplos o apoio conseguido para Os Dias da Música em Belém por parte da Câmara Municipal de Lisboa em anos anteriores, e, para a edição de 2009, avançou que o CCB conseguiu também um apoio da REN - Redes Energéticas Nacionais.

Também sublinhou a importância do patrocínio do Turismo de Portugal para a realização do CCB Fora de Si, um evento com uma programação de espectáculos ao ar livre durante cerca de um mês, especialmente desenhado para o público durante o período de Verão, e que a administração quer manter.

Já os apoios mecenáticos à Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) não registaram "até ao momento" qualquer quebra, assinalou à Agência Lusa António Ramos, Director de Comunicação da Orquestra.

Questionado sobre eventuais efeitos da actual crise financeira, Ramos assegurou que, actualmente, a OML tem o mesmo apoio mecenático que tinha "de há alguns meses para cá".
EO/PZF/AG/RMM.

foto de Alfredo Rocha

Comments