"West Side Story" estreia no Teatro Politeama






“West Side Story - Amor Sem Barreiras”, de Filipe La Féria, ou no seu original “West Side Story”, um dos melhores musicais alguma vez feitos, sobe agora ao palco do Teatro Politeama, em Lisboa.
Originalmente um musical da Broadway e adaptado a cinema em 1961, WSS parte, evidentemente, da obra-prima de Shakespeare, Romeu e Julieta, onde os criadores Jerome Robbins, Arthur Laurentis, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim procuram trazer uma adaptação da obra à realidade nova-iorquina dos anos 50/60 – uma história de amor sem limites nascida da rivalidade entre dois gangues.

WSS de La Féria não é mais senão um dos melhores espectáculos portugueses actualmente em cena e que, em muitos aspectos, acaba por competir com o que de bom se faz internacionalmente. Sem dúvidas que é um espectáculo merecedor das mais diversas atenções, muito bem produzido e de uma concepção extraordinária. Atreverei mesmo a dizer que o original WSS é dos meus musicais de eleição e que não fiquei, em nada, desiludido com este espectáculo tendo em vistas as já elevadas expectativas. Talvez haja um ou outro pormenor que se aponte, como em tudo mas, na sua globalidade, é um musical de excelência, com muito boa música, muito boa coreografia, muito bom guarda-roupa, muito bons cenografia e muito bons actores.
WSS, à semelhança do filme, começa com uma visão geral da cidade de Nova Iorque, entre a ponte de Brooklyn e os arranha-céus, no horizonte, de semblante definido pelos contrastes de luzes com carros a irem e outros a virem, no passadiço da ponte, aleatoriamente, durante todo o espectáculo valorizam ao máximo o grau de pormenorização do musical. As rivalidades entre os Porto-riquenhos (os “Tubarões”) e os americanos de Nova Iorque (os “Jactos”) são vistas desde o inicio até ao fim, muito constantes, que atravessam pequenas rixas e grandes amores, culminando num desastroso desfecho.


Cenográficamente é impressionante! Desde os edificios de tijolos vermelhos, como abas que deslizam por dobradiças compondo, e ajustando-se entre si, vários e distintos cenários até aos mais simples campos de Basketball e a loja de costura de Anita que se eleva através do fosso. O mesmo não direi da cena em que se dá o Baile entre os grupos de rivais, cujo cenário é muito singular e empobrecido apesar de acabar por ser consumido pela beleza e imponência de todos os outros.
A música e respectiva direcção musical de Telmo Lopes, é muito fiel ao original e, claro, não podia ser mais bem orquestrada do que o que está, acompanhada de algumas belas e outras brilhantes vozes que marcam presença no palco (não esquecendo o trabalho de tradução de Filipe La Féria pelas letras que encaixam muito bem na banda sonora).
Pedro Bargado, num excelente papel de Bernardo, assim como Tiago Diogo no papel de Riff; Destaque para David Ventura como Glad Hand e Tiago Isidro como Sg. Krupke (e Director de Vozes!). Quanto ao par de apaixonados, Tony e Maria, diria que Ricardo Soler é bom e profissional no que faz, tem uma excelente voz, sente o que diz mas falta-lhe na representação; será uma questão de hábito, parece-me, onde menos nervosismo do primeiro dia o levará à quase perfeição. No entanto, Cátia Tavares, em Maria, poderia estar muito melhor do que o que é. Se a nível vocal é muito agudo e desconfortante, a representação acaba por ser ainda pior e, continua-me a parecer, que nem com a prática chegará ao nível mínimo que a personagem exige. Não obstante, continuamos a contar com profissionais como Anabela e Lúcia Moniz, à vez, como Anita – Lúcia Moniz desempenhando muito bem o papel da confiante Anita – incluindo Carlos Quintas como Tenente Schrank.
No meio de tudo isto, apraz-me ainda dizer que as grandes revelações estão mesmo nos mais novos, Jonas Cardoso em Baby John e uma representação surpreendente por Cátia Garcia em Anybodys em que ambas as personagens são martirizadas amigavelmente pelos Jactos, embora por motivos diferentes.
Relativamente à coreografia, diga-se que continua excelente, da autoria de Inna Lisniak, presença constante nos musicais de La Féria e que cada vez se afirma mais e melhor no seu trabalho. O mesmo diria do guarda-roupa que funciona muito bem nos actores e que distingue perfeitamente os vestidos e as sedas dos Porto-riquenhos em contraste com os Jeans dos americanos de gema. De resto, acaba por ser muito fiel ao seu original mas a execução é muito boa e merece ser aqui referido.
Por último, é importante referir que, a nível cénico, o trabalho de La Féria é excepcional apesar de não ser o seu melhor e apenas não concordo com a cena de amor entre Tony e Maria que é feita através de um bailado que se torna desproporcional no contexto de todo o musical. Fora isso, WSS funciona todo ele muito bem como praticamente tudo o que este encenador se dedica fazer, daí que WSS é já de si um espectáculo essêncial e até mesmo obrigatório.

Colaboração de Helder Magalhães GT
Fotos Marta Ferreira

Comments

Anonymous said…
Sem dúvida um excelente espectáculo a começar pelo magnífico cenário.
Felicito toda a companhia, mas em particular o encenador Filipe La Féria, pelo excelente trabalho no mundo do teatro ao longo de todos estes anos, e o actor Ruben Varela, pelo seu talento, capacidade vocal, presença em palco, garra… Este jovem actor, que interpretou extraordinariamente o personagem Judas no musical “Jesus Cristo Superstar”, interpreta agora o personagem Action. Embora num registo diferente do personagem Judas a intensidade e garra com que este actor “agarrou” este personagem é excelente.
Tomei conhecimento do “Guia dos Teatros” depois de terem deixado uma mensagem no blog que dedico ao actor Ruben Varela e desde então tenho sido uma visitante assídua.

Obrigada,
Alicia Marques