LEÔNCIO E LENA





LEÔNCIO E LENA de Georg Büchner
Tradução Renato Correia
Encenação Ricardo Aibéo
Cenário Joana Villaverde
Desenho de Luz José Álvaro Correia
Interpretação David Almeida, David Pereira Bastos, Luís Miguel Cintra, Ricardo Aibéo, Sara Carinhas, Sofia Marques e Tiago Mateus
Produção Executiva Patrícia André
Assistência de Produção Heloisa Bonfanti
Produção Sul – Associação Cultural e Artística com a colaboração do Teatro da Cornucópia

Projecto financiado por: Ministério da Cultura/Direcção-Geral das Artes; Fundação Calouste-Gulbenkian; GDA-Direitos dos Artistas; Fundação Marion Ehrhardt
Lisboa: Teatro do Bairro Alto
De 13/06 a 6/07/2008
3ª a sábado às 21:30. Domingo às 16:00

Georg Büchner (1813-1837), singular dramaturgo alemão, autor das peças “Woyzeck”, “A Morte de Danton” e “Leôncio e Lena” e da novela “Lenz”, morreu precocemente com 23 anos de idade, vítima de tifo. Foi um dos adolescentes geniais de vida curta, filho único da poesia, ao lado de Lautréamont e de Rimbaud. A obra de Büchner, tão preciosa quanto escassa, só foi reconhecida e dada a conhecer quase cem anos após a morte do autor. Hoje é considerado, dentro do teatro universal, um génio, um visionário, um percursor do teatro moderno e de várias tendências que se afirmaram no século XX: o Expressionismo, o Teatro Existêncialista, o Teatro do Absurdo, etc. É citado como referência estética tanto por Bertolt Brecht, como por Antonin Artaud (correntes opostas, porém unânimes em apontar a importância de Büchner).

Com uma escrita inovadora, altamente poética e politizada, Büchner utiliza em “Leôncio e Lena” a estética do Romantismo para, servindo-se dos seus recursos, a criticar. Utiliza um enredo romântico para fazer uma denúncia demolidora e satírica contra a falta de espírito público e a tirania absurda dos reis, dos governantes. Nesta obra-prima que é “Leôncio e Lena”, anterior a "Rei Ubu" de Alfred Jarry (tão moderna quanto sua sucessora), Büchner criou aquilo que cem anos após ter sido escrita, Artaud viria a chamar de “realidade poética”.

O príncipe Leôncio vive entediado no reino de Pupu. O rei Pedro, seu pai, decide que o seu herdeiro deve casar-se com a princesa Lena do reino de Pipi e marca o dia do casamento. Leôncio não concorda com a arbitrariedade desta decisão e, com o apoio do seu fiel amigo Valério – uma espécie de vagabundo filósofo – foge para Itália em busca do amor ideal.

No reino de Pipi, a princesa Lena, outro infeliz fantoche do Poder, decide também fugir, pois não admite casar-se com um desconhecido. Os dois príncipes encontram-se casualmente e, desconhecendo por completo as suas verdadeiras identidades, acabam por apaixonar-se.

Entretanto, no dia do casamento, instala-se um alvoroço no reino de Pupu com a descoberta da fuga do príncipe. Mas o criativo e delirante Valério tem uma ideia: cria uma encenação para o Rei, convencendo-o de que para fazer valer a palavra real não é preciso casar concretamente os dois príncipes, basta uma cerimónia simbólica onde os noivos sejam representados por dois ‘bonecos’, que efectivamente são os dois príncipes mascarados. A cerimónia é realizada e depois de oficializado o matrimónio os dois ‘fantoches’ tiram as máscaras e é-lhes revelada a sua identidade.

A contemporaneidade e a intemporalidade da peça afirmam-se, de modo delicado e ao mesmo tempo cirúrgico e contundente, na forma como nela são abordados os temas do amor, do tédio e do Poder. Com um forte cunho filosófico, esta obra (“comédia niilista”, segundo alguns teóricos), que afirma o grande fatalismo da condição humana, é uma comédia dialecticamente trágica: apesar de, tanto Leôncio como Lena, procurarem o caminho da redenção e da independência, quis o destino que eles se encontrassem por acaso e se apaixonassem, sem saberem quem são realmente.

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