Estudo de Manuel Gama estima consequências devastadoras para o sector cultural até ao final deste ano.
Um estudo da Universidade do Minho indica que, até ao final do ano, as organizações culturais estimam perder até 80% do volume de negócios e que metade dos trabalhadores do sector cultural com contrato de trabalho possam ir para o desemprego.
A conclusão é retirada de um inquérito feito ao longo de todo o mês de Março a 144 profissionais e organizações do sector, e está presente no estudo Impactos da Covid-19 no sector cultural português, da autoria de Manuel Gama, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da UMinho e coordenador do seu Observatório de Políticas de Comunicação e Cultura (POLObs).
À RUM, Manuel Gama adianta que a diminuição drástica de receitas e de recursos humanos pode resultar no "encerramento de muitas organizações" e em "graves problemas na oferta e diversidade cultural ao longo deste e do próximo ano". O autor reconhece que "há um problema grave de subfinanciamento" no sector, lembrando que a tutela destinou "apenas 1 milhão de euros para o apoio às artes", mas diz que o dinheiro não é o único entrave ao desenvolvimento cultural no país. Existe também "falta de visão e de planeamento estratégico a médio prazo".
A resposta para estabelecer políticas para o sector deve estar, sugere o autor do estudo, na colaboração tripartida entre ministério da Cultura, autarquias locais e os próprios agentes culturais. No caso dos municípios, Manuel Gama lembra que existe movimento substantivo de verbas e é vital, assinala, "enquadrar esses investimentos para que haja uma lógica e não se façam apenas actividades avulsas". O autor considera ainda que, nas autarquias, "não há, muitas vezes, nos lugares estratégicos da política cultural, gestores ou pessoas directamente vocacionadas para o sector".
O estudo aponta também, através de uma análise aos websites de organismos públicos e privados, a uma certa inércia do ministério da Cultura em atacar a crise, ao focar-se mais, sobretudo numa fase inicial da pandemia, em "encerrar espaços e actividades". Por outro lado, o sector privado foi capaz de responder "de forma muito rápida, ainda antes de ser declarada a situação de alerta" ao promover "a transição da oferta cultural do espaço físico para o mundo virtual".
Apenas 1% de notícias de cultura tiveram direito a chamada de capa
O estudo de Manuel Gama analisou ainda o impacto mediático da cultura em sete jornais portugueses e concluiu que, em Março, apenas 1% de notícias relacionadas com o sector tiveram direito a chamada de capa. O dado estatístico, diz o autor do estudo, é sintomático da desvalorização da cultura no país.
"Não se valoriza, de forma transversal, a importância da cultura no desenvolvimento social. Há problemas estruturais que podem ser resolvidos e que não dependem só da tutela, mas de todos", finaliza.
Pedro Magalhães in RUM
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