"Castro", a primeira tragédia clássica portuguesa, que tem por base a vida e a morte de Inês de Castro, é posta em cena pelo encenador Nuno Cardoso, sem que nenhuma das personagens tenha contacto entre si.
A peça teve um ensaio público `online`, com atores, encenador e espetadores ligados apenas pela plataforma digital, quando passam pouco mais de dois meses sobre a estreia desta versão, em 05 de março, no Teatro Aveirense, quando Portugal somava nove pessoas infetadas com covid-19, quase duas semanas antes da declaração do estado de emergência.
Escrita pelo poeta humanista português António Ferreira, "Castro" foi ainda exibida em vídeo, no Teatro Nacional S. João (TNSJ), no Porto, durante as celebrações do centenário desta sala de espetáculos, no início de março, onde estava para ser estreada, a 27 desse mês, Dia Mundial do Teatro. Nessa altura, porém, já a sala se encontrava encerrada e só foi possível vê-la `online`.
Hoje, o encenador e diretor artístico do TNSJ, Nuno Cardoso, garantiu à Lusa que a obra virá a ser representada em palco, nesse palco. Ainda não tem previsão de data, mas gostaria de que tal acontecesse o mais breve possível, como disse no final do ensaio, que decorreu na plataforma digital.
Mais do que a transposição deste clássico seiscentista para a atualidade, o que marca a encenação de Nuno Cardoso de "A Castro" é o facto de nenhuma das personagens entrar em contacto físico, nem mesmo o par amoroso que está no centro da tragédia. Pedro e Inês não têm um único diálogo ao longo das duas horas que dura o espetáculo.
"A Castro" ou a "Tragédia mui sentida e elegante de Dona Inês de Castro", foi publicada em 1587 e estreada em Coimbra, inaugurando a tragédia clássica em Portugal.
A história original fala do amor proibido entre Inês de Castro e o infante Pedro, filho do rei Afonso IV, que é persuadido pelos "seus ministros" a matar a amante do filho.
Em "Castro", o encenador veste Inês com longo vestido justo, de cetim prateado e saltos altos, enquanto o Coro, escolhe músicas no telemóvel deixando pairar por instantes "Every Breath You Take", dos The Police, e descobrir um Pedro em fato de treino, que gosta de cereais com leite.
A ação desenrola-se numa casa em maquete, em tamanho real, com as personagens a deambular pelo quarto, cozinha, sala, escritório e um jardim com baloiços.
No ensaio `online` de hoje, o encenador insistiu que a peça questiona "o que é o amor, a razão pessoal e a razão de Estado".
A peça "Castro" marcou o início das celebrações do centenário do TNSJ, cujo edifício será alvo de obras de reabilitação, e assinalava também o início de uma nova era do teatro, que passou a contar com um elenco "quase" residente.
Nuno Cardoso disse hoje que, depois da presença de "Castro" em palco, a peça será de novo transmitida `online`.
Segundo o Plano de Desconfinamento, aprovado pelo Governo há uma semana, a reabertura de cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos, está prevista para 01 de junho, desde que tenham "lugares marcados, lotação reduzida" e garantam o "distanciamento físico".
Questionado sobre se o TNSJ reabrirá portas em junho, Nuno Cardoso disse que, se tal viesse a acontecer, nunca seria para espetáculos.
"Isso não significa que não possa vir a realizar-se uma iniciativa ou outra, mas os espetáculos requerem tempo de trabalho anterior", acrescentou.
O TNSJ prevê fechar para obras de reabilitação, em 31 de março de 2021, e reabrir sete meses mais tarde, em 31 de outubro de 2021.
"Castro" é interpretada por Afonso Santos, Joana Carvalho, João Melo, Mário Santos, Margarida Carvalho, Maria Leite, Rodrigo Santos e Pedro Frias.
A dramaturgia é assinada por Ricardo Braun e os figurinos são do `designer` português de moda Luís Buchinho.
A cenografia é de F. Ribeiro, o desenho de luz, de José Álvaro Correia e, a sonoplastia, de João Oliveira.
O vídeo é de Fernando Costa.
LUSA
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