Edi Rama manda abaixo Teatro Nacional da Albânia



As autoridades albanesas começaram a demolir o edifício do teatro nacional na madrugada deste domingo, depois de terem prendido duas dezenas de actores e activistas que protegiam o local, atraindo uma grande multidão a entoar "vergonha" e "ditadura".

Após mais de dois anos de resistência por parte de ativistas da sociedade civil, as forças policiais cercaram o edifício por volta das 4h30, onde vários cidadãos, artistas e membros do partido da oposição passavam a noite como forma de protesto e dispersaram-nos para começar com os procedimentos de demolição. 
Dezenas de cidadãos foram detidos por resistência, incluindo a líder do partido da oposição LSI, Monika Kryemadhi, e o jornalista albanês Alfred Lela. A área que rodeava o edifício foi então isolada e os cidadãos foram impedidos de entrar.



Há mais de dois anos que actores, activistas e a oposição contestam os planos do primeiro-ministro socialista Edi Rama para construir um novo teatro, dizendo que o edifício existente fazia parte do património do país, e acusaram-no de práticas corruptas.

Uma grande força policial apareceu antes do amanhecer e retirou membros da Aliança para Proteger o Teatro, usando spray de pimenta. Escavadoras começaram então a demolir a sua coluna frontal, com as palavras "Teatro Nacional".



O destino do edifício, construído em 1939 e transformado num teatro nacional em 1945, dividiu a sociedade, com muitos zangados por Rama ter escolhido agir durante o bloqueio do coronavírus.
"Isto já não tem a ver com a demolição do teatro, mas com a queda da democracia e da liberdade. Estamos numa ditadura", disse um membro não identificado da aliança num vídeo no Facebook.
Rama, cujo governo diz que o teatro era decrépito e que precisava de modernização, manteve a sua ideia de que estava a insistir no progresso, depois de construir um novo estádio de futebol.
"São as mesmas pessoas que se opõem a todos os projetos em Tirana. Eles não querem desenvolvimento, mas não podem parar Tirana", disse Rama numa publicação no Facebook.

Os manifestantes empurraram a polícia bloqueando o acesso ao local e entoaram "abaixo a ditadura", levando a 37 detenções. Um polícia foi hospitalizado depois de ter sido atropelado por manifestantes, enquanto uma testemunha da Reuters também viu um manifestante com ferimentos na cabeça.
Um dos detidos, o analista de media Alfred Lela, disse após a sua libertação que a polícia tinha usado violência injustificada e abusos verbais. Os polícias pontapearam os manifestantes, que atiraram garrafas de água, de acordo com uma testemunha da Reuters.
A polícia disse que as acusações de violência eram falsas.

Os críticos do plano original para um novo teatro disseram que a obra tinha sido adjudicada a um dos parceiros preferidos do governo sem estar sujeita a concurso, com a construção de vários novos imóveis de arranha-céus incluídos no negócio.
O governo socialista retirou esse plano em fevereiro.
Os manifestantes alegam que é exigido por lei um prazo de seis meses para que um novo projeto seja aprovado e que o governo não tinha assegurado as autorizações adequadas para a realização da demolição.

Mariya Gabriel, comissária da União Europeia para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, instou na semana passada a novas discussões antes de qualquer decisão sobre o teatro.
O líder do partido da oposição, Lulzim Basha, disse que a demolição era ilegal e também "demoliu os alicerces da sociedade".

O Presidente Ilir Meta, que detém um papel em grande parte cerimonial no governo, queixou-se ao Tribunal Constitucional sobre a demolição, que classificou como um "crime legal, moral e constitucional". O tribunal ainda está para decidir.
GT com Reuters



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