Comédias do Minho dão vida a teatro radiofónico



A companhia Comédias do Minho apostou no teatro radiofónico para ganhar nova vida fora dos palcos e chegar, através das ondas hertzianas, ao público do vale do Minho, afastado das salas de espetáculos por causa da covid-19.

"Sentimos necessidade de continuar ligados às pessoas que nos costumam estar próximas e quisemos, sem pôr em causa aquilo em que acreditamos e a forma como olhamos para o teatro (...). Este desejo de relação com as rádios locais era um sonho já com algum tempo, aliás, porque temos a nossa própria rádio digital. Era nosso desejo criar ligação com as rádios locais, mas nunca tivemos capacidade e tempo para o fazer. Neste momento, surgiu essa oportunidade e decidimos fazê-lo", afirmou hoje à agência Lusa a diretora artística da companhia de teatro criada em 2003, por cinco dos dez municípios do distrito de Viana do Castelo.

Ainda em fase de adaptação à nova realidade imposta pela pandemia causada pelo novo coronavírus, a reinvenção da companhia através do teatro radiofónico pretende, segundo Magda Henriques, "estabelecer e fortalecer a relação com as rádios locais e, por isso, com o território e as pessoas do lugar", mas também para "revisitar textos clássicos que ajudam a compreender melhor o que se está hoje a viver".

As quatro sessões de teatro radiofónico, nas rádios Vale do Minho e Cultural de Cerveira, receberam o nome de "Hoje é Dia de Clássico" e, por serem ao domingo, as Comédias do Minho relacionaram-nas "com os clássicos da bola, da moda ou das famílias".

"A noção de clássico, nestes clássicos que vamos trabalhar, são os textos de teatro, que são uma referência e que continuam a interpelar-nos e a comover-nos", especificou Magda Henriques.

A Rádio Vale do Minho, com frequências diferentes, consegue alcançar quatro dos cinco concelhos que a criaram, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença. Já a Rádio Cultural de Cerveira emite para o concelho para Vila Nova de Cerveira.

"Não podendo estar todos juntos, vamos criar para a rádio, também, um clássico da rádio, a partir dos textos de um programa da Rádio Comercial dos anos 80, que era o 'Pão com Manteiga'. Vão estar os nossos amadores a trabalhar a partir desses textos que são um clássico da rádio em Portugal", explicou a diretora artística da companhia Comédias do Minho.

Transmitido aos domingos de manhã, a partir de maio de 1980, "Pão com Manteiga" mobilizou, ao longo dos anos, escritores, jornalistas e radialistas como Mário Zambujal, Bernardo Brito e Cunha, Eduarda Ferreira, Orlando Neves, Joaquim Furtado, José Fanha, José Duarte, Artur Couto e Santos e Carlos Cruz, tendo dado origem a dois livros, uma revista e um suplemento no antigo vespertino A Capital.

A diretora das Comédias do Minho, Magda Henriques, espera que, no futuro, este novo modelo para rádio possa vir a "complementar" o trabalho desenvolvido pela companhia junto do público do Vale do Minho.

"O nosso desejo é que tenha continuidade. Pelo menos durante o tempo em que não for possível estarmos como gostaríamos, que é todos juntos. Quem sabe se para além disso podemos dar-lhe continuidade num futuro mais alargado, sem substituir a presença, mas que possa também ser uma forma complementar dessa presença. Não sabemos. Neste momento, estamos só a experimentar o que conseguimos, fazer porque estamos a aprender a fazer", referiu.

Os vários episódios podem ser ouvidos em direto na Rádio Vale do Minho e na Rádio Cultural de Cerveira, aos domingos, às 18:30, e, nos dias seguintes, na plataforma digital da Rádio Comédias - A Imaginação Sem Fios, no Soundcloud, Spotify, Apple Podcasts e restantes plataformas de 'podcasts'.

As Comédias do Minho são um projeto cultural dos municípios de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova da Cerveira.

O grupo, com sede em Paredes de Coura, assenta a sua atividade em três eixos de intervenção - o teatro, mas também um projeto pedagógico -, apostando na formação artística de jovens, e um projeto comunitário, difundindo e dinamizando projetos das comunidades, apoiando também a formação de grupos de teatro amadores.
Lusa

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