Recordar Armando Caldas (1935-2019)


O actor e encenador Armando Caldas, nascido em 1935, um dos fundadores do Teatro Moderno de Lisboa, morreu em Lisboa no passado dia 13.

Armando Caldas nasceu em Elvas, em 1935, estreou-se como actor, em 1958, no Teatro Avenida, em Lisboa, na peça O Mentiroso, de Carlo Goldoni, e fundou, em 1961, com Rogério Paulo, Armando Cortez, Carmen Dolores e Fernando Gusmão, o Teatro Moderno de Lisboa, companhia pioneira do teatro independente em Portugal, que marcou a renovação do teatro no país, a partir do palco do Cinema Império. No espectáculos do Teatro Moderno de Lisboa estiveram "O Tinteiro" (1961), "Humilhados e ofendidos" (1962), "Dente por Dente" (1964), "O Render dos Heróis" (1965), "Antígona" (1969)

Em 1969, Armando Caldas esteve na origem do Primeiro Acto - Clube de Teatro de Algés e, mais tarde, da companhia o Intervalo, residente no Auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha, e onde o actor permaneceu até 2016, onde encenou espectáculos como "Tão bom! A nossa filha vai casar com um conde!", "Histórias para serem contadas", "Marginalizados", "Memórias de guerra", "Lorca, Espanha, cumplicidades", "Rua Garrett", "O mentiroso", "Os trinta milhões de Mister Bill", "A gaivota", "A ilha dos escravos", "Isto é a gente a falar", "O inspector geral", "As 24 horas da vida de uma mulher", "D. Quixote de La Mancha", "George Dandin", "O diário de uma criada de quarto", "As cartas de amor de Sóror Mariana - uma freira portuguesa apaixonada", "As faces de Pessoa" ou "12 homens em fúria" entre muitos outros. 

Armando Caldas trabalhou igualmente no Teatro de Sempre Teatro Nacional Popular, entre 1959 e 1960, onde participou em "Lucy Crown", "Doze homens fechados", "O amor, o dinheiro e a morte" ou "Leonor Teles",  no Teatro de Sempre, em 1958 e 1959, em "O mentiroso", "O gebo e a Sombra", "O fim do caminho", "Marido em rodagem" ou "Seis personagens em busca de autor" e no antigo Grupo 4 (na origem do Teatro Aberto), na década de 1970, segundo a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A estreia de Render dos Heróis, de José Cardoso Pires, que fechou a actividade do Teatro Moderno de Lisboa, em 1965, Antígona, de Sófocles, A Gaivota, de Anton Tchekhov, e Ratos e Homens, a partir de John Steinbeck, são algumas das peças que interpretou ou encenou numa carreira de quase 60 anos.

No seu percurso destacam-se ainda autores que vão de Shakespeare, Dostoievsky e Nicolai Gogol a Eça de Queirós, Eugène Labiche, Woody Allen ou Luís Francisco Rebello.

Armando Caldas também escreveu para palco, destacando-se a Biografia Teatralizada de Tchekhov, Chico Fantocheiro ou a História do Senhor da Barriga Cheia, a versão Os Três Chapéus Altos, a partir de Tres sombreros de copa, de Miguel Mihura, e a adaptação livre de O Inspector Geral, de Gogol.

Estreou-se na televisão em 1961, em O Ausente, de Artur Ramos, sobre uma peça de Charles Spaak, e regressou ao “pequeno ecrã” um ano depois, para ser Artur em A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, com o realizador Nuno Fradique e os actores Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho.

Manteve-se nas noites de teatro da RTP durante a década de 1960, com peças como Nocturno de Chopin, de Oliveira e Costa, sobre Manuel Lereno, e A Fronteira, sobre um original de Olavo d’ Eça Leal.

Em 1989, entrou na série filmada histórica Pedro, o Cruel, produzida em Espanha.

“Membro do Partido Comunista Português desde 1956”, Armando Caldas “defendeu e levou à prática um teatro político e socialmente interventivo”, lê-se no comunicado divulgado pelo PCP.

Armando Caldas foi também membro dos órgãos sociais do Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo.

Em 2008, o actor e encenador foi alvo de uma homenagem no Teatro da Trindade, em Lisboa, pelos 50 anos de carreira, que mobilizou atores como Rui Mendes, Fernando Tavares Marques e Carmen Dolores, que consigo fundou o Teatro Moderno de Lisboa, e que na altura destacou “a grande coragem” de Armando Caldas na entrega ao teatro.

Em 2013, a Câmara Municipal de Oeiras homenageou igualmente Armando Caldas, com a edição do livro Teatro, Como Quem Respira, que retrata a sua carreira.

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