A figura, o gesto e o discurso de Pina Bausch permanecem colados no nosso imaginário da dança.
Sabemos como foi marcante o seu reportório, como os criadores depois dela são, de certo modo, seus filhos, como soube melhor que ninguém revelar nos corpos dos heróis e das heroínas a fragilidade e a condição humana. Este imaginário subsiste também no espectador, mesmo que não a tenha visto dançar em “Café Muller”, a única peça em que a coreógrafa entra como intérprete e que se apresentou pela última vez em Portugal em 2008, pouco mais de um ano antes da sua inesperada morte e dez anos depois de “Mazurca Fogo”, trabalho sobre a cidade de Lisboa, por ocasião e encomenda da Expo-98. Pina e o seu universo sensível estão registados na nossa memória, tanto como na última cena do filme melodramático “Fala com Ela,” de Pedro Almodóvar; no documentário “Lissabon-Wuppertal-Lisboa”, de Fernando Lopes; no livro que a crítica portuguesa Cláudia Galhós lhe dedicou; na apresentação de “Bamboo Blues” e “Sweet Mambo” no Teatro Nacional São João em 2011, a última vez que o Tanztheater Wuppertal, companhia que fundou em 1973, esteve no Porto e onde dançava Cristiana Morganti. Quem não se lembra do vestido florido, do cabelo encaracolado e das sapatilhas de pontas recortadas sobre a paisagem industrial de Wuppertal, na cena de Morganti para “Pina”, de Wim Wenders? A célebre intérprete, que participou em quase todo o reportório como solista do Tanztheater desde 1993, convida-nos para uma conferência-performance que é um mergulho intimista aos ensaios do ponto de vista de um bailarino. Como é um construído um solo? Qual é a relação entre movimento e emoção? Como é que um bailarino e a cenografia se relacionam? Quando pode um gesto tornar-se dança? E, sobretudo, o que faz com que aconteça uma relação mágica e misteriosa entre o artista e espectador? Partindo de excertos exemplificativos, para depois falar sobre o que dançou, Cristiana Morganti mostra os seus interesses e a sua experiência com a coreógrafa alemã. “Moving with Pina” aviva uma lembrança íntima desta personagem que se tornou icónica, ao mesmo tempo que a humaniza na sua partilha com o público, para nos continuarmos a lembrar de que não importa tanto o modo como as pessoas dançam, mas a razão porque o fazem.
Cristiana Morganti é bailarina e coreógrafa. Frequentou o curso de Classical Dance na National Dance Academy em Roma e de Modern Dance na Folkwang Hochschule em Essen, Alemanha. Após o período de formação, colaborou com inúmeros coreógrafos, como Susanne Linke, Urs Dietrich, Felix Ruckert e com a companhia NEUER TANZ, sob a direção de VA Wölfl e Wanda Golonka. Perseguindo o interesse pelo teatro experimental e, em particular, pelo uso da voz, Cristiana Morganti teve formação com o Odin Teatret de Eugenio Barba. No entanto, um dos pontos altos da sua carreira foi o período em que trabalhou com a reconhecida autora, coreógrafa e bailarina Pina Bausch. De 1993 a 2014, Morganti foi solista da companhia de Pina Bausch, sendo ainda hoje artista convidada da companhia. Fez parte, de resto, de grande parte das coreografias da coreógrafa alemã e participou numa série de novas criações da companhia por ela fundada. Atualmente, é professora convidada do Conservatoire Nationale Superièure de Paris (França) e da Accademia Nazional D’Arte Drammatica Silvio D’Amico, em Roma (Itália). Em 2010 criou a sua homenagem a Pina Bausch, o espetáculo “Moving with Pina”, aclamado nos teatros e cidades onde foi apresentado.
"Moving with Pina"
Teatro Municipal do Porto
22 de Março Sex 21.00h & 23 de Março Sáb 19.00h
CAMPO ALEGRE Auditório
10.00€ • >6
Comments