O ex-jornalista da RTP e crítico de teatro Fernando Midões faleceu este domingo de manhã na Casa do Artista, onde residia.
Fernando Midões, nasceu em Lisboa, licenciou-se em ciências pedagógicas pela Faculdade de Letras de Lisboa e em direito pela Faculdade de Direito de Coimbra.
Iniciou a sua carreira como crítico de teatro no jornal "A Planície", sendo que mais tarde veio a colaborar com o Diário Popular e o Diário de Notícias. Pertenceu aos quadros da RTP. Quando se deu o 25 de abril, Fernando Midões já trabalhava na RTP e, depois da Revolução dos Cravos que pôs termo à ditadura, começou a aparecer em frente às câmaras, a dar as notícias aos portugueses.
Na RTP foi realizador, sobretudo de teleteatro, tendo realizado, entre outras, "O Mundo Começou às 5h47 (1992), "Comédia das Verdades e das Mentiras (1992), "O Clube dos Antropófagos" (1991), "Rosas e Aplausos para Isabel" (1990), "Socorro, Sou uma Mulher de Sucesso" (1989), "O Avejão" (1988), "Aos 50 Anos Ela Descobriu o Mar" (1987) , "A Banda do Chico de Holanda" (1986), "As Memórias de Sarah Bernhardt" (1984), "A Vida Íntima de Laura" (1981) ou os programas "Isso Julgas Tu" (1991), "Piano Bar" (1988), "Clube de Leitura" (1984), "Jornalinho" (1984), "Brinca Brincando" (1981), "Festa é Festa" ou "A Festa Continua".
Vários foram os colegas que demonstraram o seu pesar
" Tristeza, quanta tristeza Midões. Já não consegui ir visitá-lo. Ficou-me a memória da última vez que nos vimos, na avenida da Liberdade.
Aprendi muito consigo e foi por si e para si que iniciei a realização. Atirou-me "aos leões" como costumava dizer. E eu fui....e fui.....e aprendi. Aprendi também a ser parte da "sua gente" a gente do Teatro. Conto, amiúde, muitas das suas histórias e também daquelas, tantas, que vivemos juntos. Como daquela vez que partiu o nariz na única árvore ( fininha) no pátio da RTP Lumiar e gritou: Valha-me Santa Maria Egipcíaca!!!!... E.quando desceu do escorrega no parque infantil em Évora e partiu o dedo??? Toda a equipa o ajudou, desde fazer a barba, atar os sapatos e a partir o bife, enquanto o Midões apreciava aquilo tudo de sorriso maroto. Conto muitas das suas histórias porque falo muito de si....
Porque comia alternadamente uvas pretas num ano e no ano seguinte uvas brancas, por respeito à Natureza???? Quando uma senhora lhe pisava o pé exclamava:- não tem importância, até achei piada...qual é o seu signo????
Costumava dizer-me que eu tinha sido a sua filha já fora de tempo, e que as minhas filhas, as suas netas adiantadas. E sim, quando a minha filha mais velha nasceu e o Midões nos foi visitar à Maternidade no dia seguinte....sim..a Renata sorriu para si !
Tive a honra de o ter como padrinho do meu segundo casamento, meu realizador, meu AMIGO.
Até sempre meu querido Fernando Midões...a "minha gente" ficou mais pobre."
Elsa Wellenkamp
"TERRA QUEIMADA
Mais um fim.
Menos um nome do princípio da televisão em Portugal.
O jornalista, crítico teatral e realizador, Fernando Midões, acaba de bater a claquette na última cena da sua vida. Corta!!!
Recordo-lhe a voz rouca de cigarros e cigarros que lhe marcavam os dedos de castanho. Revejo-o tantas vezes em bastidores de teatro a entrevistar artistas ( no caso o Ruy de Carvalho) que recordo no meu Inesquecível.
Não esqueço o seu papel de jornalista a escrever notícias e a coordenar a exaltação do dia da liberdade ao qual ficou para sempre ligado.
O Fernando Midões realizou também alguns dos meus grandes ( pelo menos em duração) programas, o Festa é Festa e Festa Continua, num ambiente de camaradagem feito de admiração e respeito.
O que este senhor sabia de teatro vai com ele para o infinito. A voz rouca, ouvi-a pela última vez no jantar de Natal da Casa do Artista e, estupidamente tímido, não lhe pedi para fazermos uma foto juntos.
Meus amigos, a RTP do pioneirismo, da criatividade feita de carências de meios, da inventividade para dar o melhor aos espectadores passando entre as malhas da censura, a RTP de homens e mulheres esforçados e divertidos a fazer televisão para os portugueses, com ética e valores que para alguns estarão fora de moda, está a morrer todos os dias.
Disse há dias numa entrevista à TV Guia que pertenço a uma espécie em vias de extinção e que eu próprio estou a preparar a minha.
Nunca me ouvirão dizer que "no meu tempo é que era bom" mas posso garantir que os cabelos brancos dos ainda sobreviventes, não são um ónus para que se apregoe de forma cruelmente ignorante que a velharia tem que ser passada a patacos porque é um peso para as novas ideias.
O Fernando Midões foi um grande jornalista, culto e rigoroso, um conhecedor profundo do teatro nacional e mundial, um realizador seguro e educado, um grande homem de televisão.
Não lhe vou mais ouvir a voz rouca , nem olhar para aqueles dedos queimados do tabaco.
Mas estou aqui de olhos queimados pela tristeza a dizer-vos que a indigência que se imagina eterna, tem ainda uma missão a cumprir:- Escrever uma página, só uma, para a história da televisão.
Quem será o próximo?"
Júlio Isidro
"Mais uma notícia triste que me chega: MORREU O FERNANDO MIDÕES. Um crítico de teatro que conheci, nos anos sessenta do século passado, quando fora, pouco antes, um dos fundadores do Grupo Cénico da Faculdade de Direito de Lisboa. Tinha 86 anos! Sempre o vi como não nos deixasse antes dos 100 anos. Tinha o exemplo da Mãe que, perto dos 100 anos, tinha um caderno junto ao telefone em que apontava, rigorosamente, tudo o que queríamos dizer ao Filho. Uma grande Senhora de quem me lembro, perfeitamente, dos pedidos de esclarecimento que me fazia, sobretudo nos anos noventa, quando procurava falar com o Fernando.
Um longo, longo abraço para ti, meu Fernando Midões."
Júlio Gago
"É com muita tristeza que me despeço do nosso querido e muito estimado amigo
Fernando Midões.
grande jornalista ,crítico de teatro,uma figura incontornável da nossa cultura e sociedade. Ainda guardo com carinho a primeira crítica de teatro escrita pelo Fernando quando me estreei na peça o “o dia seguinte “ do nosso saudoso amigo Luiz Francisco Rebello, desde então ficou a grande estima e admiração pelo profissional e grande ser humano. Até sempre ,viverá nos nossos corações"
Sofia Alves
"Que o meu amigo e cúmplice de tantas estreias e noites de Tertúlia e Boa Conversa nos deixou. Grande homem de Teatro, excelente jornalista, óptimo realizador de Teleteatro, era uma pessoa generosa e culta, crítico sem preconceitos que frequentava desde o chamado declamado ao de Revista, Comédia e até ao Travesti com classe, como os da saudosa Lydia Barloff. Bom vivant, boémio, notável comunicador - estivemos juntos em tantos encontros e colóquios - frequentador da noite. A nossa amizade já vinha de muito longe nas noitadas com ele e a Ana Patacho, então sua companheira na vida e na RTP . E com um bom espírito de humor, o Fernando era um príncipe do Renascimento.
Aqui lhe rendo a minha melhor homenagem já que uma das suas principais qualidades, mesmo a nível da escrita e da crítica, era o de amar profundamente os actores com quem aliás, como eu, tínhamos aliás o prazer de conviver e de frequentar. Nunca teve com eles uma distanciação brechtiana cultivada por alguns. O Fernando era um conversador, gostava das pessoas e da vida, um homem de afectos.
Estive com ele, pela última vez, numa sessão de Poesia que fiz, como voluntariado cultural, na Casa do Artista e parecia-me bastante animado e bem.
Meu caro Fernando Midões, foste o colega de quem me senti mais próximo e mais cúmplice, com quem tive maiores afinidades, deixas o Teatro mais pobre e a mim também. Porque perdi um grande amigo. Mas os amigos continuam a viver na nossa memória e no nosso coração. Abraço forte, forte."
Tito Livio
"Mais uma notícia triste que me chega: MORREU O FERNANDO MIDÕES. Um crítico de teatro que conheci, nos anos sessenta do século passado, quando fora, pouco antes, um dos fundadores do Grupo Cénico da Faculdade de Direito de Lisboa. Tinha 86 anos! Sempre o vi como não nos deixasse antes dos 100 anos. Tinha o exemplo da Mãe que, perto dos 100 anos, tinha um caderno junto ao telefone em que apontava, rigorosamente, tudo o que queríamos dizer ao Filho. Uma grande Senhora de quem me lembro, perfeitamente, dos pedidos de esclarecimento que me fazia, sobretudo nos anos noventa, quando procurava falar com o Fernando.
Um longo, longo abraço para ti, meu Fernando Midões."
Júlio Gago
"É com muita tristeza que me despeço do nosso querido e muito estimado amigo
Fernando Midões.
grande jornalista ,crítico de teatro,uma figura incontornável da nossa cultura e sociedade. Ainda guardo com carinho a primeira crítica de teatro escrita pelo Fernando quando me estreei na peça o “o dia seguinte “ do nosso saudoso amigo Luiz Francisco Rebello, desde então ficou a grande estima e admiração pelo profissional e grande ser humano. Até sempre ,viverá nos nossos corações"
Sofia Alves
"Que o meu amigo e cúmplice de tantas estreias e noites de Tertúlia e Boa Conversa nos deixou. Grande homem de Teatro, excelente jornalista, óptimo realizador de Teleteatro, era uma pessoa generosa e culta, crítico sem preconceitos que frequentava desde o chamado declamado ao de Revista, Comédia e até ao Travesti com classe, como os da saudosa Lydia Barloff. Bom vivant, boémio, notável comunicador - estivemos juntos em tantos encontros e colóquios - frequentador da noite. A nossa amizade já vinha de muito longe nas noitadas com ele e a Ana Patacho, então sua companheira na vida e na RTP . E com um bom espírito de humor, o Fernando era um príncipe do Renascimento.
Aqui lhe rendo a minha melhor homenagem já que uma das suas principais qualidades, mesmo a nível da escrita e da crítica, era o de amar profundamente os actores com quem aliás, como eu, tínhamos aliás o prazer de conviver e de frequentar. Nunca teve com eles uma distanciação brechtiana cultivada por alguns. O Fernando era um conversador, gostava das pessoas e da vida, um homem de afectos.
Estive com ele, pela última vez, numa sessão de Poesia que fiz, como voluntariado cultural, na Casa do Artista e parecia-me bastante animado e bem.
Meu caro Fernando Midões, foste o colega de quem me senti mais próximo e mais cúmplice, com quem tive maiores afinidades, deixas o Teatro mais pobre e a mim também. Porque perdi um grande amigo. Mas os amigos continuam a viver na nossa memória e no nosso coração. Abraço forte, forte."
Tito Livio
Presidente da República lamenta a morte de Fernando Midões
"O Presidente da República apresenta os seus sentimentos à família e aos amigos de Fernando Midões, que hoje nos deixou, depois de uma longa vida de jornalista dedicado e crítico de teatro, e que foi presença nas nossas casas através da RTP.", lê-se numa nota publicada no site da Presidência.
Nota de pesar pela morte de Fernando Midões
"A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta a morte de Fernando Midões, jornalista e crítico teatral, sublinhando o papel importante que teve no acompanhamento de projetos teatrais ao longo das décadas em que colaborou no Diário Popular e no Diário de Notícias.
Motivado por uma curiosidade e um conhecimento que aproximava o seu olhar de especialista dos discursos dos artistas, Fernando Midões foi um nome no qual gerações de artistas se habituaram a confiar sabendo que, através das suas críticas, eram páginas da história do teatro que se estavam a escrever.
Antigo jornalista da RTP, responsável pela emissão noticiosa que acompanhou a revolução de 25 de Abril de 1974, Fernando Midões nunca deixou de completar o seu olhar sobre a sociedade com referências cultas empenhadas numa tradução que não deixava de lado públicos mais ou menos conhecedores." lê-se numa nota publicada no site do Governo Português
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