Neste dia mundial do Teatro, quero dirigir-me acima de tudo ao futuro, aos jovens. E principalmente aos jovens que querem aprender a arte do Teatro. A estes, quero transmitir que o Teatro é uma profissão que exige devoção e uma entrega total. Um artista tem de o ser de corpo e alma, por amor e vocação. O Teatro é como uma religião, não só exige de nós uma enorme dedicação, como também nos liga a tudo o que nos rodeia e, como tal, tem de ser um Teatro interventivo e apaixonado. E é através dessa paixão que acabamos por nos descobrir a nós próprios. É através dessa paixão que encontramos a nossa interioridade. O que o Teatro não admite de modo algum é a indiferença. Indiferença ao mundo, indiferença ao Outro. Porque é um terreno fértil onde cultivamos e descobrimos formas colaborativas de união humana, um lugar onde o tempo do mundo se suspende por momentos e onde encontramos tempos outros, tempos de diálogo e partilha, tempos de questionamento ético e debate de ideias. O Teatro está naturalmente envolvido na reforma social e promove a união humana e um sentido de comunidade entre todos aqueles que nele participam, desde dramaturgos, encenadores e atores, a cenógrafos, figurinistas, luminotécnicos e sonoplastas, sem esquecer o público, para quem afinal todos nós trabalhamos. O Teatro é revolucionário, grita contra a opressão e resiste sempre. O seu espírito a tudo sobrevive, às guerras e conflitos, à repressão e à censura. Consegue sempre renascer, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Tem também uma função didática, mesmo quando pretende não a ter, pois contribui necessariamente para a formação cultural da sociedade. E nunca é demais sublinhar a importância da Cultura para a sociedade. Um país sem Cultura não existe. O Teatro é—e foi desde sempre—a minha vocação. A ele dediquei a minha vida. E após 65 anos a vivê-lo, dia a dia, ano a ano, é com grande alegria que assisto à emergência de novas companhias com a mesma crença e paixão que eu e os meus colegas tivemos ao criar o Teatro Experimental de Cascais, em 1956. Cabe a cada nova geração manter viva a chama sagrada que transporta o Teatro para além das portas do teatro. Confio que esta o saberá fazer. Quero também aqui deixar a minha grata homenagem a todos aqueles e aquelas que colaboram e colaboraram connosco ao longo de todos estes anos, aos que estão vivos e àqueles que já partiram, mas que estão sempre presentes no nosso trabalho. E termino esta breve mensagem, sublinhando a importância das três coisas mais importantes para o Teatro: paixão, paixão, paixão!
Lisboa, 27 de Março de 2019
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