“Mongrel” é o nome do espectáculo que Mário Laginha Trio apresenta, hoje, pelas 21h30, no Cine-Teatro Louletano, no dia em que esta casa de espectáculos abre as portas após obras de remodelação.
Ao piano, Mário Laginha, faz-se acompanhar por Bernardo Moreira, no contrabaixo, e Alexandre Frazão, na bateria, num trabalho concebido para assinalar o bicentenário do nascimento de Frédéric Chopin (1810-49).
«Durante o espaço de tempo em que escolhi as peças de Chopin que queria incluir neste disco, fui relembrando que a profusão de melodias e a riqueza harmónica são uma constante em toda a sua música. No Scherzo, na Balada, na Fantasia e até nos Nocturnos, só utilizei parte dessas melodias (por vezes uma só). Tomei muitas liberdades. Mudei compassos, tempos, modifiquei algumas harmonias - até mesmo melodias - criei espaço para a improvisação, enfim, nunca me abstive de alterar aquilo que me pareceu necessário para aproximar a música de Chopin do meu universo musical. Tinha que o fazer. Ironicamente, embirro solenemente com versões de temas clássicos em que lhes acrescentam um ritmo de jazz ou pop. Nunca o faria. Quis deixar reconhecível a fonte musical, mas fiz os possíveis por não ter uma deferência tal que me inibisse de transformar o que quer que fosse.
Este disco é uma espécie de heresia a transbordar respeito pelo compositor. E parece-me quase um dever homenagear um dos maiores improvisadores de todos os tempos com uma música que tem na sua matriz a improvisação.
Uma última nota sobre o nome do CD. A música que aqui está não é exactamente a que Chopin escreveu, está contaminada por outras. Nesse sentido é uma música mestiça. Como para o imaginário português a palavra mestiço remete muito para África, fui à procura de outra, noutra língua, que tendo o mesmo significado, não sugerisse uma relação (que neste caso não existe) com esse universo. Encontrei. É "Mongrel"» (Mário Laginha).
Sobre Mário Laginha
A sua carreira tem sido construída ao lado de outros músicos, de uma forma constante e intensa. E com raras excepções: o primeiro disco a solo, “Canções e Fugas”, é editado em 2006.
Para Mário Laginha, fazer música é sobretudo um acto de partilha. E tem-no feito com personalidades musicais fortes.
O duo privilegiado com a cantora Maria João resulta num dos casos mais consistentes e originais da actual música portuguesa. A parceria de Mário Laginha com Maria João resultou numa dezena de discos e na participação em alguns dos mais importantes festivais de Jazz do mundo: Festival de Jazz de Montreux, Festival do Mar do Norte, Festival de Jazz de San Sebastian, Festival de Jazz de Montreal...
Com Bernardo Sassetti é partilhado o mesmo instrumento: uma formação pouco frequente na área do jazz, que ganha com o facto de ambos construírem um universo único, à volta das suas próprias composições. Com muito em comum, e também com acentuadas diferenças, conseguem um equilíbrio invulgar. Juntaram-se pela primeira vez em 1998 e gravaram desde então dois álbuns.
Pedro Burmester (com quem também tem um disco gravado) tem sido a sua principal ponte com a música clássica, desde finais dos anos 80. Laginha leva a sua bagagem musical para um repertório do século XX, oferecendo-lhe um forte sentido rítmico.
Criou o Trio de Mário Laginha com o contrabaixista Bernardo Moreira e o baterista Alexandre Frazão. Esta é talvez a formação que mais próxima está do jazz, ainda que não com um estilo convencional, donde resultou muito recentemente um disco gravado em estúdio, “Espaço”.
A sua carreira leva mais de 20 anos: foi um dos fundadores, em 1984, do Sexteto de Jazz de Lisboa e criou o Decateto de Mário Laginha (1987). A sua personalidade musical era já muito evidente no disco “Hoje” (1994) – o primeiro que assinou com o seu nome.
Ademar Dias in "Algarve Notícias"
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