“Um Eléctrico Chamado Desejo” é uma obra-prima da dramaturgia do século XX que estabeleceu Tennessee Williams como um dos maiores autores americanos. Aqui, retrata-se o confronto entre os valores tradicionais do Sul da América e o materialismo agressivo da América moderna.
Blanche DuBois, uma frágil e solitária beldade sulista, decide visitar a sua irmã, Stella, que vive num bairro pobre de Nova Orleães. Numa altura em que a sua vida se encontra em declínio, Blanche acaba por se confrontar com o marido de Stella, Stanley Kowalski, cujo temperamento rude tanto ofende como atrai a sua educada sensibilidade. Enquanto o jazz dos anos 40 enche os bares locais durante a noite, as tensões crescem até atingirem um ponto de ruptura inevitável.
as palavras do encenador...
Em 1998, a convite do Dr. Mega Ferreira, encenei, no âmbito do Festival dos 100 dias da Expo 98, a peça “O Jardim Zoológico de Cristal”. O espectáculo estreou precisamente no Teatro Nacional D. Maria II, na sala Estúdio, e tinha no papel de Amanda Wingfield a extraordinária Carmen Dolores. Foi assim que mergulhei no universo de Tennessee Williams e me familiarizei com a sua vida e obra. Ao longo dos ensaios deste “Eléctrico” e enquanto desbravávamos terreno, várias foram as vezes que me lembrei desse outro processo. A tendência lírica de Williams está bem patente nas histórias que conta e nos códigos que utiliza. O optimismo de Amanda Wingfield e a sua capacidade para entreter os seus “Gentlemen Callers” está igualmente expressa na personagem de Blanche e nas leis da natureza que dizem que uma senhora deve divertir um cavalheiro ou então nada feito! Mas contrariamente a Blanche que não diz a verdade mas o que deveria ser a verdade, Williams é cru na percepção que tem do mundo que o rodeia e das personagens que o habitam. Não é na malícia mas na incapacidade de comunicar e entender os outros que reside a semente do conflito e consequentemente
da acção... os cegos guiam os cegos...!
Não sei porquê, mas em retrospectiva constato que me sinto invariavelmente atraído por peças que foram adaptadas ao cinema. As narrativas e as personagens tridimensionais devem ter algo que ver com isso. De qualquer forma, neste caso obrigo-me a não rever a versão cinematográfica. Guardo apenas imagens que a minha memória se encarregou de seleccionar. Suponho que as comparações sejam inevitáveis, mas recomendo que se concentrem no trabalho deste notável conjunto de actores, determinante no espectáculo que agora partilhamos convosco.
Não posso deixar de celebrar o regresso da Alexandra Lencastre aos nossos palcos. Enquanto colega e admirador, há muito que aguardava por este momento.
Flores para los vivos...!
Diogo Infante
[9 Set – 31 Out]
SALA GARRETT
4.ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h
Ficha Artística
de TENNESSEE WILLIAMS
encenação DIOGO INFANTE
tradução HELENA BRIGA NOGUEIRA
cenografia CATARINA AMARO
figurinos MARIA GONZAGA
desenho de luz NUNO MEIRA
sonoplastia RUI DÂMASO
psicologia da performance PEDRO ALMEIDA
assistente de encenação ISABEL ROSA
com ALBANO JERÓNIMO, ALEXANDRA LENCASTRE, ANDRÉ PATRÍCIO,
ESTÊVÃO ANTUNES, JOSÉ NEVES, LÚCIA MONIZ, MARQUES D´AREDE, PAULA MORA,
PEDRO LAGINHA e SOFIA CORREIA
produção TNDM II
M/12
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