"Felizmente Há Luar" no Forte de S. Julião da Barra


A convite do Ministério da Defesa Nacional A BARRACA vai apresentar um sessão especial do espectáculo “Felizmente Há Luar!” de Luís de Sttau Monteiro, no Forte de S. Julião da Barra, no dia 18 de Junho.

A partir da obra de Raul Brandão “Vida e Morte de Gomes Freire” Luis de Sttau Monteiro mostra-nos o reino de Portugal sob o domínio dos ingleses que ocuparam o país no seguimento da vitória sobre as invasões francesas. A ditadura de William Beresford, o “aliado” ocupante, serve a Sttau Monteiro para mostrar os mecanismos de denúncia e traição que os regimes ditatoriais sempre fomentam e assim aproximar aquele período do século XIX da ditadura de Salazar sob a qual viveu.

A obra escrita em 1961 aproxima Gomes Freire de Andrade de Humberto Delgado, candidato da oposição a Salazar, que como o primeiro acaba assassinado pelo regime a que se opôs.

A peça faz assim, tal como o teatro fez sempre, uma transposição de tempos. Mostra-se o que se passou para que todos compreendamos melhor o que se passa. Assim fizeram os trágicos gregos indo buscar matéria à Guerra de Tróia e ao ciclo Tebano, assim fez Shakespeare indo estudar as crónicas dos antigos reis, assim fez Kleist, Victor Hugo, assim fez Brecht, Heiner Müller, etc, etc.

A peça tem 2 actos. O primeiro acto mostra-nos o ambiente que precede a revolta que, a triunfar, trará de volta o rei D. João VI a Portugal e promulgará uma monarquia constitucional. Intrigas, denúncias, mas também o povo esperançado a avançar na sua luta. O acto tem um ritmo rápido, através do qual são apresentados os vários grupos sociais que estão em jogo e termina com a prisão de Gomes Freire de Andrade.

O segundo acto mostra-nos o desânimo geral devido à prisão do General. Tal como no tempo de Salazar a polícia actua sobre os civis evitando que a revolta se propague. Matilde, a mulher de Gomes Freire de Andrade, (interpretada no espectáculo por Maria do Céu Guerra) personagem que embora tendo existido realmente, é na peça romantizada e enfatizada pelo autor que lhe confere o papel da corajosa protagonista que tudo arrisca para salvar o “seu herói” com quem partilhou amor, vida e convicções durante muitos anos. O ritmo deste acto é mais lento, mais trágico, mais belo. Tudo caminha para a fatalidade. O herói será sacrificado. No fim só nos resta esperar que o heroísmo do grande patriota dê frutos e exemplo na resistência à tirania.

O espectáculo é feito respeitando o estilo e a letra do autor. Utilizando porém o estilo de A BARRACA de que se destaca a austeridade de recursos com vista a permitir a mobilidade e itinerância do espectáculo. Temos em conta no espectáculo que estão em jogo dois tempos históricos. Não escamoteando assim as mais profundas intenções de Luis de Sttau Monteiro.

Ficha Artística e Técnica
Texto Luis de Sttau Monteiro
Encenação: Helder Costa
Elenco: Maria do Céu Guerra, Jorge Gomes Ribeiro, Luis Thomar, Adérito Lopes, Pedro Borges, Rita Fernandes, Sérgio Moras,
Sérgio Moura Afonso, Susana Costa

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