por Alice Vieira
no JN
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No dia 21 deste mês, morreu Adelina Campos. Ouvi a notícia, muito breve, creio que no fim de um telejornal na RTP, e por momentos pensei que se tinham enganado. Disparate. Podia lá ser. Ao tempo que a Adelina Campos devia ter morrido.
Mas era verdade. A actriz Adelina Campos acabava de morrer, com 103 anos de idade.
É terrível quando demasiados anos pesam sobre o silêncio que se faz à roda de nomes que deixaram de ser notícia - o que nos leva a pensar que já morreram quando, afinal, ainda estão vivos.
No dia seguinte, todos os jornais deram a notícia meia dúzia de linhas, lembrando que ela tinha sido actriz de teatro e de cinema, citando três nomes de peças, três nomes de filmes.
Todas as notícias iguais. Quem anda nestas lides sabe o que isso quer dizer notícia de agenda, a mesma chapa em todos os jornais.
Três nomes de peças, três nomes de filmes - assim se esgota a carreira de uma vida.
Nem sequer uma fotografia.
Até mesmo a RTP não foi além disso actriz de teatro e de cinema. Nem sequer o rosto
E pasmei.
Seria possível que a RTP não tivesse ao menos uma fotografia sua? Seria possível que na RTP já ninguém soubesse quem ela era?
Porque a verdade é que, nos tempos heróicos da RTP, a Adelina Campos foi presença muito assídua nos ecrãs. Nos tempos da televisão em directo, a preto e branco, e só algumas horas à noite. Nos tempos em que dava uma peça de teatro todas as semanas. No tempo em que as pessoas conheciam os actores pelos seus nomes (e não pelo nome das personagens, como agora nas telenovelas), e falavam deles como se pertencessem à família, e iam vê-los depois ao Nacional ou ao Avenida.
A Adelina Campos não terá sido uma figura de primeira grandeza a brilhar nos nossos palcos ; mas foi uma daquelas personagens secundárias indispensáveis, que fazem brilhar os outros, sem os quais o teatro não funciona - e que nunca se esquecem.
A Adelina Campos era uma figura muito cativante. Ainda hoje tenho na memória o som da sua voz, e a doçura do seu sorriso.
Mas a memória das pessoas é muito curta - sobretudo quando se trata de alguém que teve a… felicidade?... infelicidade?... de viver para lá dos 100 anos.
No entanto, os habitantes de Vila Flor, sua terra natal, deram há dois anos o seu nome ao auditório municipal. E creio que lá se encontram muitos documentos e fotografias, numa espécie de pequeno museu. Ao menos isso.
Navego pela net durante uma tarde inteira, e não encontro nada a seu respeito.
Já desesperava - quando apanho um blog em que o autor dava a notícia, a mesma de todos os jornais, glosando depois aquilo que lhe parecia mais importante, ou seja, os 103 anos de vida, e informando que não se sabia mais nada acerca dela.
Felizmente, uma neta de Adelina estava atenta minutos depois respondia, lastimando a falta de fotografias dos arquivos, mas anunciando para as 18 horas de hoje, domingo, na RTP-Memória, a transmissão da sua última entrevista.
Não sei se a RTP o recordou aos telespectadores. Por isso aqui fica o aviso. Olhem que é já daqui a pouco.
Seria bom que houvesse muita gente diante dos televisores a essa hora. É essa a homenagem que Adelina Campos merece. A sua última salva de palmas. Para que uma vida de 103 anos não se esgote em meia dúzia de linhas, o nome de três peças e o nome de três filmes.
Alice Vieira escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos
sobre Adelina Campos
Adelina Martins de Campos (Vila Flor, 11 de Abril de 1905 - 21 de Abril de 2008) foi uma actriz portuguesa.
Adelina Campos nasceu em Vila Flor, a 11 de Abril de 1905, mas foi para Lisboa com a avó, onde, após o falecimento da sua mãe, passou a viver com a família. Frequentou o curso de Arte de Representação do Conservatório Nacional de Lisboa, onde se formou em 1926, com louvor.
Ainda aluna, estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, com a peça Duas Metades. Posteriormente, ingressou na Companhia de Ilda Stichini, no Teatro Politeama, onde revelou todos os seus dotes de ingénua dramática nas peças Lourdes e Morgadinha de Valflor.
Casou, em 1927, com o actor Samwell Diniz, ao lado de quem decorreria toda sua carreira.
Em 2006, a Câmara Municipal de Vila Flor, terra natal homenageou-a baptizando o Auditório Municipal com o seu nome.
Nos últimos anos de vida, viveu, em Lisboa, num lar de idosos, onde morreu em 21 de Abril de 2008 com 103 anos de idade.
Teatro
Adelina de Campos teve interpretações notáveis nas peças:
Napoleão (1946) de P. Reynal
Rapazes de Hoje (1947) de R. Ferdinand
O Gebo e a Sombra (1958), de Raul Brandão.
Cinema
Foi protagonista do filme "José do Telhado" (1945), de Armando de Miranda.
Participou no filme "Uma vontade maior" (1967), de Carlos Tudela.
Adelina Campos nasceu em Vila Flor, a 11 de Abril de 1905, mas foi para Lisboa com a avó, onde, após o falecimento da sua mãe, passou a viver com a família. Frequentou o curso de Arte de Representação do Conservatório Nacional de Lisboa, onde se formou em 1926, com louvor.
Ainda aluna, estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, com a peça Duas Metades. Posteriormente, ingressou na Companhia de Ilda Stichini, no Teatro Politeama, onde revelou todos os seus dotes de ingénua dramática nas peças Lourdes e Morgadinha de Valflor.
Casou, em 1927, com o actor Samwell Diniz, ao lado de quem decorreria toda sua carreira.
Em 2006, a Câmara Municipal de Vila Flor, terra natal homenageou-a baptizando o Auditório Municipal com o seu nome.
Nos últimos anos de vida, viveu, em Lisboa, num lar de idosos, onde morreu em 21 de Abril de 2008 com 103 anos de idade.
Teatro
Adelina de Campos teve interpretações notáveis nas peças:
Napoleão (1946) de P. Reynal
Rapazes de Hoje (1947) de R. Ferdinand
O Gebo e a Sombra (1958), de Raul Brandão.
Cinema
Foi protagonista do filme "José do Telhado" (1945), de Armando de Miranda.
Participou no filme "Uma vontade maior" (1967), de Carlos Tudela.
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