Borba avança com projecto dedicado ao teatro tradicional do Alentejo

A Direcção Regional de Cultura do Alentejo e o município de Borba, Évora, vão avançar com um projecto dedicado ao inventário e salvaguarda do teatro tradicional do Alentejo, disse hoje o presidente da autarquia, Ângelo de Sá.

Em declarações à agência Lusa, o autarca referiu que no âmbito desta iniciativa, a Direcção Regional de Cultura do Alentejo surge como instituição promotora, enquanto a autarquia de Borba, como parceiro, vai desenvolver no concelho um projecto na área do teatro tradicional do Alentejo.

Segundo o autarca, um protocolo de colaboração a desenvolver na área do teatro tradicional, no âmbito do "Projecto para a Promoção do Cante Alentejano e do Património Cultural Imaterial do Alentejo", vai ser assinado hoje, ao final da tarde, pelas duas instituições.

A assinatura do documento decorre no cine-teatro de Borba, no final de um colóquio subordinado ao tema "Teatro Tradicional do Alentejo", onde vão estar em destaque os Bonecos de Santo Aleixo, tradicionais marionetas alentejanas, com "grande tradição" no concelho.

De acordo com a Direcção Regional de Cultura, no âmbito do projecto do património imaterial, que está a desenvolver, de dimensão regional, em articulação com diversas instituições e autarquias, o município de Borba foi escolhido para acolher o pólo dedicado à área do teatro tradicional da região.

O projecto, segundo os promotores, pretende potenciar e promover a continuidade das manifestações do património cultural imaterial identificadas no Alentejo em estreita ligação com as comunidades locais.

Este trabalho vai ser efectuado com base na realização do inventário dessas manifestações e na construção de planos de salvaguarda, a partir de pólos representativos que abrangem toda a região, como é o caso de Borba na área do teatro tradicional.

A escolha de Borba para esta acção prende-se com o facto das duas colecções dos Bonecos de Santo Aleixo ainda existentes serem oriundas daquele concelho, e por esta autarquia estar na posse do espólio do estudioso Azinhal Abelho, fundamental para o conhecimento, entre outras matérias, do teatro tradicional na região e no país.

De acordo com a autarquia de Borba, a iniciativa prevê que ambas as instituições se comprometam a desenvolver acções no âmbito das artes do espectáculo, com particular incidência no teatro tradicional.

A realização de encontros de carácter científico, espectáculos e edições são algumas das actividades previstas.

Para o desenvolvimento do projecto o município de Borba vai disponibilizar as instalações do Celeiro da Cultura.

Ângelo de Sá disse ainda à Lusa que a autarquia vai também avançar com uma actividade de ensino do teatro, com a intenção de ser constituído um grupo cénico na localidade.

O director e actor do Centro Dramático de Évora (CENDREV), José Russo, é um dos oradores no colóquio de hoje que vai falar sobre os "Bonecos de Santo Aleixo: uma experiência de Recuperação do nosso Património Cultural".

José Russo disse à Lusa que os Bonecos de Santo Aleixo constituem "um espólio cultural de importância mundial. Não se conhece em parte nenhuma do mundo outros com estas características".

"Trabalhamos há mais de vinte anos com os Bonecos de Santo Aleixo e com o decorrer dos tempos apercebemo-nos da importância e do valor do espólio que recebemos", realçou.

Os "pícaros" e "atrevidos" bonecos têm origem numa aldeia alentejana, chamada Santo Aleixo, concelho de Monforte, consistindo em títeres de varão, manipulados por cima - à semelhança das grandes marionetas do Sul de Itália e do Norte da Europa-, mas diminutos (de 20 a 40 centímetros).

As marionetas são actualmente manipuladas por uma "família" constituída por actores profissionais do CENDREV, que apresentam o espectáculo tal como o receberam do Mestre Talhinhas.

Os Bonecos de Santo Aleixo, cujos textos eram apenas transmitidos por via oral, foram pertença da família Talhinhas, de Rio de Moinhos, Borba, durante cerca de quatro décadas e, a partir de 1967, foram "dados a conhecer ao mundo culto" por Michel Giacometti e Henrique Delgado.

Depois da Assembleia Distrital de Évora ter adquirido todo o material ao Mestre Talhinhas, em 1978, no ano seguinte o Centro Cultural de Évora (antecessor do actual CENDREV) ficou depositário de todo o espólio.

Os actores do CENDREV garantem a permanência dos espectáculos destas marionetas tradicionais, que são já "conhecidas e apreciadas em todo o país e em muitos lugares do mundo".
in Lusa

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