"L'Apprentissage" na Culturgest






Na quarta-feira, dia 29 de Abril, pelas 21h30, no Pequeno Auditório da Culturgest terá lugar a estreia de L’Apprentissage – Dans la Main d’Isolina com encenação, coreografia e interpretação de Fabrizio Pazzaglia, texto de Jean-Luc Lagarce e tradução de Lurdes Júdice para o português.

O espectáculo nasce do texto de Jean-Luc Lagarce, descrevendo a sua situação de contínua e lenta reaprendizagem do corpo após sair do estado de coma, causado pela sua doença. O espectáculo centra-se na fragilidade que se torna força, ao ver-se remetido para esta situação, a construção da multiplicidade de personagens em palco e o trabalho e uso do espaço teatral.

L’Apprentissage será também apresentado na quinta-feira, dia 30 de Abril, pelas 21h30.

Os bilhetes terão o preço de 12 euros; jovens até aos 30 anos têm um preço único de 5 euros.

Fabrizio Pazzaglia, diplomado em dança e educação física, trabalhou com diferentes encenadores e coreógrafos como Dominique Frot, Brigette Seth, Roser Montllo’Guberna, Anne Sicco, Hervé Jourdet, Francis Plisson, Olga Roriz e Matthiew Jocelin e encenou e coreografou vários espectáculos: Teta Veleta, inspirado na obra de Pasolini, 2005; Lisbon Ville Invisible, 1999; Dimanche 8 Octobre, 2000; Nijinsky: Memoria Prima, 2001.

Em L’Apprentissage, Fabrizio utiliza duas argolas de ginástica, usando-as na dança como se de uma actividade física se tratasse, em exercícios repetidos. No texto vemos que Lagarce utiliza a repetição e enumeração dos seus sentidos, dos seus movimentos ou acções para que pareçam mais reais, para que ele acredite neles como sendo relevantes para o seu desenvolvimento, utilizado também neste espectáculo. O corpo, nesta situação fragilizada, pode ser sentido de uma forma, mas não é reflectido da mesma. Em palco existe uma segunda personagem, um técnico que monta as argolas, permanecendo no seu distanciamento, interagindo indirectamente com a personagem principal. O cenário é caracterizado pelo minimalismo, apenas revelando aquilo que nos vai centrar na sua reaprendizagem, espaço que, como ele, vai crescendo e progredindo.

Como autor, Jean-Luc Lagarce centra os seus textos no discurso fluído e frontal, onde interroga a capacidade de cada um em dizer verdadeiramente o que sente. Vemos isso em L’Apprentissage, não há censura nem pudor, despe-se de vergonha emocional e física, é transparente. No texto oscila de homem a criança, máquina ou saco de papel, apercebendo-se da sua importância ao ver-se nesta situação.

Encenador e co-fundador da companhia “Le Théâthre de la Roulotte”, Lagarce morre com 38 anos, a 30 de Setembro de 1995 de SIDA. O legado que deixa tornou-o o autor mais usado depois de Shakespeare e Molière, ultrapassando Racine e Tchekov (segundo um estudo do Ministério de França, de 2001/2002, que enviamos em anexo).

Tanto o texto, como a peça podem fazer-nos reflectir sobre a liberdade como processo, dentro e fora de nós, sobre a fragilidade do corpo. Até que ponto somos livres quando somos tão dependentes, o quanto dependemos do nosso corpo e existimos nele.

Aprender é mudar.
Pode existir aprendizagem sem esta sensação profunda de impotência?
O vácuo perante uma situação desconhecida.
É este o espaço da criação,
o espaço onde se pode reinventar.
É neste silêncio que pode nascer este movimento exigente onde o antigo
se torna novo.
Um passeio no limiar sem regresso possível.

Fabrizio Pazzaglia


Já estou aqui há vários dias – contam-me mais tarde – já aqui estou há vários dias, quando abro os olhos.

Abro os olhos. Ou já há vários dias que abro os olhos antes mesmo de o saber, vários dias depois de ter aberto os olhos e no primeiro dia em que me apercebo de os abrir.

Abro os olhos.

L’Apprentissage, Jean-Luc Lagarce

(tradução de Lurdes Júdice)

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