Residentes em Lisboa sobem ao palco para representar 1% dos habitantes da cidade



O espectáculo “100% Lisboa”, do colectivo germano-suíço Rimini Protokoll, estreia na sexta-feira na Culturgest, levando ao palco cem habitantes da cidade que pegam em dados estatísticos demográficos da capital portuguesa e lhes dão “uma cara”.

O espectáculo – que já foi realizado em mais de 35 cidades, entre as quais o Porto, em 19 e 20 de Janeiro, Berlim, Londres, Paris, Melbourne ou Tóquio – trata estatísticas oficiais de Lisboa e leva habitantes a representarem a “população dividida em categorias como género, idade, nacionalidade, agregado familiar e área de residência”.

Segundo Mark Deputter, director artístico da Culturgest, a personagem principal de 100% Lisboa é a cidade, sendo os actores “cem dos seus habitantes, escolhidos por outros habitantes, numa espécie de reacção em cadeia”.



“O primeiro participante escolheu o segundo, que indicou o terceiro, que convidou o quarto. São pessoas que nunca estudaram para serem actores e provavelmente nunca pensaram alguma vez pisar o palco de um teatro”, revela Mark Deputter, no comunicado de apresentação do espectáculo, descrevendo os intervenientes como “peritos da vida quotidiana”.

De acordo com o director artístico, os participantes “são muito mais do que meros figurantes”, já que dão vida ao espectáculo, ao partilharem as “suas histórias e opiniões, dando corpo ao guião do evento”. Sem a sua participação, “o espectáculo não existe”.

O colectivo Rimini Protokoll, de Helgard Haug, Stefan Kaegi e Daniel Wetzel, foi constituído no ano 2000, sendo reconhecido internacionalmente, no universo do teatro, como criador do movimento teatro da realidade.

O processo de casting “de muitos rostos e palavras” demorou mais de seis meses, tempo durante o qual foram seleccionadas 100 pessoas que vão “falar por si, sobre si, sobre a sua vida, opiniões, felicidades e mágoas”.



São 100 residentes em Lisboa, em palco, onde cada um representa 1% dos habitantes da cidade.

Entre estes estão crianças, com os seus pais ou sozinhas, portugueses e estrangeiros de diferentes nacionalidades que vivem na cidade, como austríacos, brasileiros, búlgaros, moçambicanos, romenos, cabo-verdianos, italianos, chineses ou nepaleses.

Todos falam da luz de Lisboa, enaltecendo-a e considerando ser incomparável com qualquer outra cidade, pelo que só se veem a viver noutro lugar “por motivos de força maior”, mesmo aqueles que não nasceram na capital, mas que a adotaram para nela habitar.

Muitos dos participantes identificam também o som de Lisboa com o dos pássaros que chilreiam e nos cheiros são identificados tanto a maresia como esgotos, ou os jacarandás na primavera.

As estatísticas usadas no espectáculo são da responsabilidade da PORDATA – Base de Dados de Portugal Contemporâneo, organizada e desenvolvida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

De acordo com os dados, Lisboa tem a maior área metropolitana da Europa, mas apenas 500 mil habitantes. Mais de 54% são mulheres, 25% tem mais de 65 anos e um em cada dez tem nacionalidade estrangeira.

No ano passado, 6,2 milhões de turistas visitaram Lisboa e diariamente 450 mil pessoas entram na cidade para estudar ou trabalhar.

O espectáculo 100% Lisboa e´ produzido pela Culturgest em conjunto com a companhia Rimini Protokoll, em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, com o apoio da PORDATA e do Goethe Institut Lisboa.

A par do espetáculo, a Culturgest abrigará ainda uma exposição, preparada pela PORDATA e intitulada 100% Portugal, onde são apresentados dados sobre vários dados relativos à população, educação, saúde, turismo, ambiente e energia, proteção social, empresas, emprego e desemprego, finanças locais ou participação eleitoral, entre outras.

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