Carta a António Costa



COMISSÃO INFORMAL DE ARTISTAS

Exmo. Sr. Primeiro-Ministro,

Da reunião alargada de estruturas artísticas, actores e agentes culturais que teve lugar no dia 31 de Março de 2018 no CAL, em Lisboa, derivou uma comissão informal que gostaria de lhe dirigir as seguintes palavras.

Somos profissionais da cultura - artistas, estruturas, produtores, técnicos, programadores - e gostaríamos de ver o desenvolvimento das artes em Portugal como eixo insubstituível de cidadania e de qualificação do país. A reformulação do apoio público às artes, anunciado há dois anos, e para a qual o Ministério da Cultura decretou o adiamento, por um ano, da abertura de novos concursos, culminou num processo de apoio que exclui algumas das mais marcantes estruturas do panorama artístico e cultural nacional, e diminui a acção de muitas outras, destruindo percursos de décadas - de criação artística, de construção de públicos, de vínculos laborais e de investimento público nesses projectos.

O sistema que este Governo impôs na cultura falhou por completo e de forma transversal, fragilizando ainda mais o sector artístico. O investimento público permanece largamente insuficiente, não permitindo atingir objectivos mínimos. As políticas não reflectem o território que pretendem estruturar nem as estruturas que se propõem apoiar. Os instrumentos de gestão são ineficazes e revelam desconhecimento quanto às especificidades da actividade artística.

Estamos certos de que é um momento histórico. Resta perceber se será recordado como o momento em que este Governo desistiu da cultura e assumiu como definitivo um modelo que está a destruir muito do que foi construído, ou como o momento em que houve disponibilidade e coragem para se dotar a cultura nacional de instrumentos que evitem este estado de perda permanente, dando início a um processo de reformulação do modelo de apoio às artes, em verdadeiro diálogo com os diferentes agentes culturais.

É nesse seguimento que solicitamos, com carácter de urgência, uma audiência a V. Exa., na esperança de que haja ainda neste Governo a disponibilidade e a capacidade para cumprir os desígnios que anunciou para a cultura. Consideramos que o reforço recentemente anunciado de dois milhões de euros anuais foi um primeiro reconhecimento da insuficiência das verbas disponibilizadas para este concurso, mas vemos como fundamental que, apesar disso, seja inscrita a decisão de, ainda em 2018, haver um reforço que evite a destruição de estruturas candidatas e não apoiadas ou mesmo excluídas sob critérios que urge rever. Acreditamos que o que está em causa não é apenas a sobrevivência das estruturas de criação artística profissional, mas sim a aposta num país mais desenvolvido, com cidadãos que possuam um maior espírito crítico e sentido democrático.

3 de Abril de 2018, COMISSÃO INFORMAL DE ARTISTAS

Todas as entidades e profissionais da cultura que quiserem subscrever esta carta poderão fazê-lo através do seguinte e-mail: comissaoinformaldearti stas@gmail.com. A versão final do documento será entregue ao Primeiro-Ministro na reunião solicitada.

Lista de subscritores:

a Bruxa Teatro
A Escola da Noite
Artistas Unidos
assédio Teatro
Associ' Arte- Associação de Comunicação e Artes
Associação Tenda
Barba Azul Criações Teatrais
CADA
Cão Solteiro
casaBranca
Casa Conveniente
Causas Comuns
Cegada Grupo de Teatro
cem - centro em movimento
CENDREV
Chapitô
Companhia Cepa Torta
Companhia de Dança 
Companhia Mascarenhas-Martins
Coo.Cultural ESPAÇO DAS AGUNCHEIRAS
Divas Iludidas
Ensemble
FITEI
Inestética companhia teatral
Mala Voadora
Nova Companhia
O Teatrão
Teatro Aberto
Teatro dos Aloés
Teatro das Beiras
Teatro da Comuna
Teatro do Eléctrico
Teatroesfera
Teatro Estúdio Fontenova
Teatro da Garagem
Teatro Meridional
TEATRONACIONAL21
Teatro do Silêncio
Teatro Griot
Teatro Praga
Teatro do Vestido
Teatro Experimental de Cascais
Teatro Experimental do Porto
Teatro O Bando
Teatroesfera
Terceira Pessoa - Associação
Primeiros Sintomas
Projecto Ruínas
Vicenteatro

Adelino Lourenço (Companhia Mascarenhas-Martins)
Albano Jerónimo (TEATRONACIONAL21)
Alexandre Lyra Leite (Inestética Companhia Teatral)
Álvaro Correia
Ana Ademar
Ana Borralho (casaBranca)
Ana Brandão
Ana Duarte (CENDREV)
Ana Filipa da Franca
Ana Gil (atriz e diretora artística da Terceira Pessoa - Associação)
Ana Meira
Ana Maria Pereira Alvez Meira (Actriz/Marionetista)
Ana Palma (Teatro da Garagem)
Ana Ribeiro (Divas Iludidas / Latoaria)
Ana Rosa Mendes
André Amálio
André Reis
Andrea Sozzi
António Conceição
António Mortágua
Antonio Rebocho
Ângela Pinto (Associação Tenda)
Bruno Bravo (Primeiros Sintomas)
Carla Maciel
Carlos Avilez (ACTECAS, Lda/Teatro Experimental de Cascais)
Carlos J. Pessoa (Teatro da Garagem)
Carlos Vieira
Carlota Lagido
Carolina Mano (Teatro da Garagem)
Catarina Caetano (Projecto Ruínas)
Catarina Requeijo
Celina Gonçalves (Teatro das Beiras)
Cláudia Lucas Chéu (TEATRONACIONAL21)
Claudia Silvano (CENDREV)
Cláudia Teixeira (Teatro do Vestido)
Cleia Almeida
Cristina Carvalhal (Causas Comuns)
Daniel Cervantes (Teatro da Garagem)
Diogo Infante
Duarte Crispim
Eduardo Breda
Elsa Valentim
Eurico Lopes
Fernando Landeira (Teatro das Beiras)
Fernando Sena (Teatro das Beiras)
Figueira Cid (a Bruxa Teatro)
Filipe Abreu
Francisco Campos (Projecto Ruínas)
Francisco Leone
Giacomo Scalisi
Gil Salgueiro Nava (Teatro das Beiras)
Guilherme Noronha (Teatro o Bando)
Gustavo Vicente
Inês Barahona (Formiga Atómica)
Isabel Bilou (Teatro das Beiras)
Inês Lapa Lopes
Inês Pereira
Isabel Abreu
Isabel Craveiro (O Teatrão)
Ivo Marçal
João Brites (Teatro O Bando)
João Cachola
João Galante (casaBranca)
João Jacinto
João Mota (Teatro da Comuna)
Joana Campos
Joana Craveiro (Teatro do Vestido)
Joana Manaças
João Neca (Teatro O Bando)
Jorge Andrade (Mala Voadora)
Jorge Silva
Jorge Silva Melo (Artistas Unidos)
José Capela (Mala Voadora)
José Peixoto (Teatro dos Aloés)
José Russo
Juliana Pinho
Laura Vainer (cem - centro em movimento)
Leonardo Garibaldi
Levi Martins (Companhia Mascarenhas-Martins)
Lucília Raimundo
Luís Mouro (Teatro das Beiras)
Luis Puto
Lurdes Nobre (Associ' Arte- Associação de Comunicação e Artes)
Mafalda Vaz de Amaral
Marco Paiva
Margarida Calaveiras (Teatro das Beiras)
Maria João Vicente (Teatro da Garagem)
Maria Marrafa
Maria Mascarenhas (Companhia Mascarenhas-Martins)
Maria Mendes
Maria Ribeiro
Martim Pedroso (ator e encenador da Nova Companhia)
Miguel Castro Caldas
Miguel Fragata
Miguel Jesus (Teatro O Bando)
Miguel Magalhães
Miguel Maia (Companhia Cepa Torta)
Miguel Manaças (Associação Tenda)
Miguel Martins
Mirró Pereira (artista)
Mónica Garnel
Nélia Pinheiro (Companhia de Dança)
Nuno Borda d’água
Nuno Leão (ator, encenador e diretor artístico da Terceira Pessoa - Associação)
Patrícia Couveiro
Paula Sousa (Directora artística do Teatroesfera)
Paulo Pinto 
Pedro Gil (Barba Azul Criações Teatrais)
Pedro Jordão
Pedro Rodrigues (A Escola da Noite)
Raquel Castro (Barba Azul Criações Teatrais)
Rafael Leitão (Companhia de Dança)
Raul Atalaia (Teatro o Bando)
Rita Durão
Ricardo Brito
Ricardo Neves-Neves
Roberto Jacomé (Teatro das Beiras)
Rodrigo Cachucho
Rui Dionísio (Cegada Grupo de Teatro)
Rui Monteiro
Sandra Hung
Sara de Castro (Teatro O Bando)
São José Lapa (Coo.Cultural ESPAÇO DAS AGUNCHEIRAS)
Sérgio Loureiro (Teatro da Garagem)
Sílvia Barbeiro
Silvia Morais (Teatro das Beiras)
Sílvio Vieira 
Sofia Neuparth (c.e.m-centro em movimento)
Sofia Oliveira (CADA)
Sofia Osório (artista da dança e antropóloga brasileira, em investigação no c.e.m - centro em movimento)
Sofia Vitória
Solange Freitas
Tânia Guerreiro (Teatro do Vestido)
Tania M. Guerreiro (produtora cultural)
Teresa Coutinho
Teresa Faria
Tiago Alves de Matos
Tiago Guedes (realizador)
Tiago Moreira (Teatro das Beiras)
Tomé Baixinho
Vicente Wallenstein
Vítor Rua

Comments

Claudia Silvano said…
Cendrev - uma das companhias que o governo quer apagar do mapa do teatro português
O Cendrev é um colectivo artístico cujo percurso se tem pautado SEMPRE pelo cumprimento do SERVIÇO PÚBLICO, garantindo uma constante relação com a cidade, um regular envolvimento das comunidades educativas, frequentes deslocações ao território rural do Alentejo e, a partir deste universo, amplifica a sua intervenção no país e no estrangeiro. Das cerca de 130 sessões que a companhia apresenta em cada ano, 60% são realizadas em digressão.
A Lista provisória do concurso - Apoio Sustentado 2018-2021, evidencia uma purga no tecido cultural deste país.
Entre muitas companhias estruturantes que pura e simplesmente são varridas do mapa, encontra-se o CENDREV.
O choque foi enorme, não só pelo que fizemos ao longo de mais de quarenta anos, mas sobretudo pelo enorme esforço dos últimos anos para manter as actividades deste projecto profissional da descentralização cultural neste país. País onde os governantes continuam a não querer valorizar o trabalho artístico, DIGNIFICÁ-LO, nem a salvaguardar o nosso património colectivo cultural.
No plano de trabalho para o ciclo 2018/2021 apresentado à DGArtes, que embora tenho sido considerado ELEGÍVEL, não mereceu o financiamento deste Governo, reassumimos naturalmente as linhas estratégicas que têm orientado o nosso projecto, mas não deixámos de incluir NOVOS DESAFIOS que nos ajudam a chegar mais longe e a qualificar cada vez mais as nossas intervenções, ao implicar no trabalho outras estruturas artísticas, concretizar projectos em parceria com a Escola de Artes da Universidade de Évora ou garantir mais uma residência dos alunos finalistas do Curso Profissional de Artes do Espectáculo – Interpretação da Escola Secundária André de Gouveia.
Também não deixámos de evidenciar o trabalho com os BONECOS DE SANTO ALEIXO. Trata-se de um espólio do Teatro Popular de Bonecos do Alentejo, que se apresentam todos os anos nas aldeias da região, em muitos palcos do país e em festivais internacionais da especialidade.
Não podemos deixar de referir o papel do CENDREV na preservação e valorização do Teatro Garcia de Resende e na organização do dia-a-dia desde equipamento cultural que recebe todos os anos milhares de espectadores.
O que apresentámos não foi, desta feita, o suficiente para poder receber o financiamento do Governo, como não terá sido bastante o que apresentaram o Teatro Experimental de Cascais, o Teatro Experimental do Porto, A Escola da Noite de Coimbra, O Teatro das Beiras, Seiva Trupe, o Teatro dos Aloés, Teatrão, A Bruxa Teatro, A Bruxa Teatro, o FITEI, e o FIMP que estão entre as 39 estruturas teatrais que ficaram sem financiamento. E a razia continua em todas as áreas artísticas a concurso aos apoios da DGArtes.




Esta situação não está só a afectar quem nada recebeu. Muitas estruturas já vieram dizer, e muito bem, que embora apoiadas continuam a sofrer reduções nos seus financiamentos, e que continuamos muito longe dos valores que tivemos em 2009.
É cada vez mais claro e consensual que a verba disponível para o apoio às artes neste país, É INSUFICIENTE!!!
E que a forma como as verbas disponíveis são distribuídas pelas diferentes REGIÕES é mais um factor penalizador.
Não nos venham falar agora numa esmola de 2 milhões de euros, porque todos sabemos que isso não vai resolver o problema. Estamos cansados de pensos rápidos!!!

É a LIBERDADE que está a ser posta em causa.
A LIBERDADE dos criadores que ficam sem ferramentas.
A LIBERDADE do público que se vê privado do direito à fruição cultural.

Reclamamos uma melhor repartição dos dinheiros públicos.
Queremos trabalhar com a DIGNIDADE que nos é devida.

VIVA O TEATRO!
VIVA A CULTURA!

Cendrev