Agentes do teatro querem reunião com primeiro-ministro

Atores, encenadores e programadores entendem que os problemas que atingem o teatro são uma “questão política” e, por isso, a atribuição das verbas plurianuais não deverá ser tratada com o ministro da Cultura ou o secretário de Estado, porque estes responsáveis não defendem o sector

Os agentes do teatro vão agregar-se numa plataforma para contestar o processo de atribuição das verbas plurianuais, que consideram estar a destruir o setor, e pretendem reunir-se com o primeiro-ministro.

"Nestes quatro anos nada foi feito. Estamos todos com o mesmo problema e esta é uma luta que temos de fazer. Tenhamos ou não sido contemplados com subsídio", disse o diretor da comuna, João Mota, numa reunião realizada no Centro de Artes de Lisboa (CAL), este sábado, que contou com a presença de atores, encenadores e programadores, que encheram a sala.

O encontro aconteceu depois de, na sexta-feira, terem sido divulgados os resultados provisórios do Concurso ao Programa de Apoio Sustentado 2018-2021 da Direção-Geral das Artes (DGArtes), que têm suscitado um rol de protestos de companhias e criadores.

O Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021 – que financia grande parte da atividade artística em Portugal – abriu em outubro e tem um valor global de 64,5 milhões de euros para apoiar modalidades de circo contemporâneo e artes de rua, dança, artes visuais, cruzamentos disciplinares, música e teatro.

No encontro, atores, encenadores e programadores entenderam que os problemas que atingem o teatro são uma "questão política" e, por isso, o assunto não deverá ser tratado com o ministro da Cultura ou o secretário de Estado, porque estes responsáveis não defendem o sector.

Sublinhando a urgência de todos se unirem em torno de uma causa, o diretor da Comuna defendeu que o encontro desta sábado não deveria servir apenas "para se dizer quem tem ou não subsídio". "A nossa vida é mais do que protestar quando é a época de subsídios", disse João Mota, sublinhando que as gentes do teatro têm também de defender a regionalização, já que está é de "extrema importância do ponto de vista cultural".

Por seu turno, Fernando Sena, do Teatro das Beiras, alertou para a "falta de unidade" das pessoas do teatro, argumentando que "este é o momento" para que "todos se juntem em torno de uma causa"

"A causa é o teatro. Porque o que estão a querer fazer é acabar com ele e isso não podemos deixar", salientou Fernando Sena, lançando o repto para que se faça uma comissão representativa de toda a classe que lute pela continuidade do teatro.

Já o ator e encenador José Peixoto defendeu a necessidade de se reunirem com a comissão parlamentar de Cultura e exigir mais dinheiro para o teatro. Para o diretor do Teatro do Noroeste, é "fundamental exigir do Governo o reforço de verbas para todas as candidaturas que foram elegíveis, porque o que está em causa é o modelo de teatro que existe em Portugal desde o 25 de abril de 1974".

Os participantes na reunião contestaram ainda duas regras existentes no atual modelo de atribuição de subsídios, uma das quais consiste em que as verbas começam a ser distribuídas a partir do grupo mais bem classificado, o que faz com que quando de chegue a meio já não exista verba. Por isso defenderam que os subsídios devem ser distribuídos proporcionalmente à pontuação obtida pelos grupos que são elegíveis e que se acabe com a regra relativa às regiões.

Mónica Calle, da Casa Conveniente, uma das companhias que não receberá verbas, de acordo com os resultados provisórios dos concursos plurianuais, foi a voz mais incisiva na reunião. A atriz e encenadora disse que é sempre com Governos socialistas que a cultura fica mais "afogada", acrescentando que não se deve ter "medo de dizer isto".

"A verdade é que este Governo criou um Ministério da Cultura e dotou-o com muito menos dinheiro do que tinha a secretaria de Estado no tempo de Passos Coelho, mas parece que toda a gente tem vergonha de dizer isto. E isto tem de ser denunciado", frisou.

Por seu turno, a atriz Marina Albuquerque defendeu que os agentes de teatro têm de exigir do Governo a atribuição às artes da mesma verba disponibilizada em 2009, porque só assim o teatro não fica a perder dinheiro.

São José Lapa, da cooperativa Espaço das Aguncheiras, Elsa Valentim e Jorge Silva, do Teatro dos Aloés, Isabel Medina, da Escola de Mulheres, Maria João Luís, Albano Jerónimo, Carlos Avilez, do Teatro Experimental de Cascais, Miguel Jesus, de O Bando, Cristina Carvalhal, Ana Brandão, Martim Pedroso, Dinarte Branco, Mónica Garnel, Miguel Sopas e Levi Martins, da Companhia Mascarenhas-Martins, foram alguns dos agentes que encheram a sala do CAL.

in Expresso

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