João Pereira Bastos : "Criar uma companhia lírica"







É conhecido como musicólogo, mas assume-se um lírico e produtor teatral e de rádio. Tem 61 anos e uma vida dedicada à música e produção de espectáculos.

João Pereira Bastos foi director da Antena 2. No Teatro Nacional de São Carlos, desempenhou as funções de director de produção, técnico e artístico e do Festival Internacional de Macau. Hoje, poderia, dentro da área, fazer de tudo, mas de momento a única excepção que abriria era a de criar uma companhia lírica portuguesa, de preferência em Setúbal.

Com um longo percurso profissional que lhe valeu distinções como a Cruz da Ordem Soberana e Militar de Malta e a Medalha de Mérito Cultural conferida pelo governador de Macau que faz um homem com o seu curriculum aos 61 anos?

Está cheio de projectos e com tempo para fazer o que não podia fazer antes, mas não pretendo trabalhar. Gostaria de concretizar um velho projecto com a equipa que já tenho em mente de criar uma companhia fixa de cantores líricos e de produção de espectáculos.

Há entidades interessadas?
A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, tem-me "desencaminhado" para isso, mas faltam ainda meios, mais do que vontade.

E de que meios estamos a falar?
Para montar uma companhia residente onde quer que seja, e Setúbal é o lugar perfeito, é necessário mais do que um espaço, pelo menos uma verba anual que garanta a permanência por temporada entre sete e 12 cantores líricos, e ainda técnicos, produtores e músicos. A ideia era criar uma base fixa, mas que depois pudesse trabalhar de forma itinerante com as grandes orquestras que existem um pouco por todo o país. Com pouco mais de um sexto do orçamento do Teatro Nacional de São Carlos poderia garantir um trabalho de qualidade com grande actividade anual, na ordem dos 150 espectáculos, com sete ou oito títulos.

E Portugal tem cantores e outros artistas à altura de formar uma outra companhia, além da que existe no Teatro Nacional de São Carlos?

Perdão, o Teatro de São Carlos não tem companhia. À data desta entrevista, tem quatro cantores estrangeiros de nível muito discutível e nenhum português. Os poucos cantores portugueses que por lá passam fazem autênticos milagres. Só há uma saída, ir para o estrangeiro! Tem de existir uma companhia fora do São Carlos, de actividade permanente, de onde saiam os melhores para as temporadas internacionais de São Carlos. Os artistas precisam de ter palcos para se desenvolverem.
Licínia Girão in JN
foto de Maria Eduarda Colares

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