Santo António ajudou o Parque Mayer em 1932








História. Marchas foram 'criadas' artificialmente
As Marchas Populares tiveram as décadas de ouro nos anos 30, 40 e 50

"(....) e tenho um rapaz aqui dependurado/que é mesmo o retrato do meu namorado/Toca o fungagá/Toca o só--li-dó/vamos lá nesta marcha ao flambó." Estes versos reconhecemo-los cantados por Beatriz Costa no filme "A Canção de Lisboa". E o que nos vem à memória são as marchas populares.

De arquinho e balão, uma pequena comunidade - os vizinhos de um pátio lisboeta - celebrava numa espécie de cortejo os santos populares. Eram assim os primórdios das marchas populares nos anos 30. Numa rua ou num pátio festejava-se espontaneamente o santinho da devoção do mês de Junho. O aparecimento das marchas populares com um cunho verdadeiramente alfacinha deve--se não à espontaneidade dos lisboetas mas à mão de Leitão de Barros, depois de um convite que lhe foi endereçado em 1932 pelo proprietário do Parque Mayer, Campos de Figueiredo, para animar o recinto. Nessa altura, o Parque Mayer era, de facto, o centro da boémia lisboeta.

Participaram nesse "grande concurso de marchas populares", conforme escrevia o Diário de Notícias, os bairros do Alto do Pina, Campo de Ourique e Bairro Alto. A festa foi um sucesso e a entrada no recinto teve de fazer-se com a presença da Polícia e da Guarda Republicana, conforme relata o jornalista Appio Sottomayor numa publicação sobre a história das marchas editada pela Câmara de Lisboa. Do Parque Mayer para a Avenida da Liberdade foi um pulinho. E assim, já com o patrocínio da autarquia de Lisboa, em Junho de 1934, as marchas populares abrilhantaram um desfile com 800 marchantes que partiu (ao contrário dos dias de hoje) do Terreiro do Paço com destino ao Parque Eduardo VII. Na sua reportagem, o Diário de Lisboa descrevia o cortejo composto por um carro alegórico e as marchas representativas de doze bairros. 1935 foi um ano de ouro para as marchas. Pela primeira vez, foi cantada a grande marcha de Lisboa... "Lá vai Lisboa..."

Ao longo do século XX, as marchas, enquanto concurso, foram conhecendo interrupções, consoante a conjuntura económica e política. Na década de 40, a guerra também se repercutiu nos festejos lisboetas. Nos anos 50, os artistas de rádio e teatro passaram a ter parte activa nos desfiles. Nos anos 60, a televisão entrou na festa. Nos anos 70, quase não houve marchas. Até que, em 1988, as marchas voltaram à origem. Desde aí, têm mantido o ritmo anual.


Luisa Botinas in "DN"

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